Com sete das dez equipas sediadas no Reino Unido, responsáveis do "grande circo" estão preocupados
Corpo do artigo
O mundo da Fórmula 1 está a seguir atentamente e com preocupação o Brexit, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, para o qual o próximo mês será crucial. Depois de cinco dias de debate, a começar no dia 4, a 11 de dezembro terá lugar a votação do acordo no parlamento britânico. O governo daquele país e os países que ficarão na UE já aprovaram o texto do acordo, mas para o sucesso do processo é fundamental que o documento tenha uma aprovação significativa pela Câmara dos Comuns.
Uma saída sem acordo terá implicações que podem ser graves - no mínimo, problemáticas - para uma modalidade desportiva que tem sete das dez equipas sediadas no Reino Unido e nove corridas em solo europeu. O quinto grande prémio da temporada de 2019 será a 12 de maio em Espanha, um mês e meio depois da definitiva saída da Grã-Bretanha da UE (29 de março).
Logística gigantesca da Fórmula 1 e a implantação da maioria das equipas no Reino Unido podem ser um problema
"A chave está na eficácia e nos custos fronteiriços e alfandegários de material e pessoas", referiu ao jornal inglês "The Guardian" Jonathan Neale, o diretor de operações da McLaren, uma das tais sete escuderias com sede nas ilhas britânicas - as outras são Mercedes, Williams, Force India, Renault, Red Bull e Haas (a sede é nos EUA mas tem uma base em Barnbury). "A McLaren F1 transporta 40 toneladas e cem pessoas à volta do mundo, a cada duas semanas, para eventos em 20 países dos cinco continentes através de muitas fronteiras e alfândegas. Atualmente, há caminhos bem definidos sobre como lidas com isso para perder o mínimo possível de tempo", prosseguiu aquele responsável, revelando que a McLaren já está a trabalhar com diversas entidades - desde a própria F1 ao serviço de finanças britânico e transportadoras - para garantir que esse transporte de pessoas e material continua a ser feito de forma eficaz e sem demoras.
As preocupações da McLaren acabam por ser transversais às diversas equipas. E um aspeto que assume particular relevância é o das diferentes nacionalidades dos funcionários. Neale diz que a sua equipa emprega 800 pessoas de 23 nacionalidades e espera que o Brexit não condicione a origem da competência. O principal responsável da Mercedes, Toto Wolff, admitiu recentemente a sua preocupação pelos 1800 trabalhadores que a divisão de desporto da marca germânica tem no Reino Unido. Já a Renault está dividida - tem a base no Oxfordshire inglês mas os motores são feitos em França...
"Um carro de F1 tem cerca de 14 mil peças e as que transitam deste ano para o próximo serão menos de 10%", explica Jonathan Neale. "Muitos dos materiais são fornecidos por pequenas e médias empresas do Reino Unido e de toda a Europa. Há muitas coisas sujeitas a montagens complexas que têm de atravessar muitas fronteiras antes de cá chegarem. Se de cada vez que for atravessada uma fronteira se considerar uma transação, isso vai acrescentar muita inércia e falta de eficácia à nossa cadeia de fornecedores", lamentou o responsável, referindo que será algo que vai afetar todas as equipas.