Todos os anos, há pelo menos uma portuguesa que emigra para se tornar jogadora profissional. O surto migratório começou em 1999 e, a partir daí, os números só crescem. Este ano, saem mais quatro.
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Serão pelo menos 23 as atletas portuguesas que na próxima época estarão a jogar andebol no estrangeiro. Só este ano, Portugal terá além-fronteiras mais quatro jogadoras: três em França (Jéssica Ferreira, Cristiana Morgado e Beatriz Sousa) e uma na Alemanha (Isabel Góis). Na época anterior já tinham emigrado outras duas - Érica Tavares (França) e Rita Alves (Espanha) -, o que levanta a questão: o que as leva a abandonar o país? "Em Portugal não se aposta no feminino", responde Regina Ferreira, a primeira portuguesa a dar esse passo e a procurar melhores condições enquanto praticante da modalidade, tendo rumado a Espanha em 1999.
"Foi um orgulho, porque ser a primeira a sair de Portugal é muito marcante. Nem fui pelo dinheiro, mas sim pela ganância de querer mais, de querer evoluir", confessa a ex-jogadora da Académica de Espinho. Regina Ferreira, que tem agora 45 anos e representou cinco equipas durante 12 épocas em Espanha. Ainda que o andebol feminino tenha crescido em Portugal nos últimos cinco anos, a lateral-direita acredita que "o nível de competitividade, mentalidade e esforço é bastante superior em Espanha". "Lá fora aposta-se no masculino e no feminino e em Portugal isso não acontece, pelo menos no feminino", completa.
A falta de condições é um dos motivos que levam tantas portuguesas a procurar o estrangeiro para se tornarem profissionais, e cada vez mais jovens. Beatriz Sousa, uma das três lusas que tentará a sorte em França, tem apenas 16 anos. Para a madeirense, jogar lá fora sempre fez parte dos planos, mas ser a mais jovem no estrangeiro é uma novidade: "Desde que percebi que tinha algum potencial, comecei a definir o objetivo de emigrar, mas nunca pensei que fosse tão cedo".
Tal como ela, também Patrícia Rodrigues partiu cedo. A mais famosa das emigrantes tinha 17 anos quando seguiu para a Alemanha, com uma enorme "vontade de crescer enquanto atleta e pessoa".
Em Portugal, os escalões de formação geram muitos casos semelhantes, mas são poucas as que têm oportunidade ou arriscam partir. Grande parte fica pelo caminho, ao não conseguir conciliar o desporto com o trabalho ou os estudos. Enquanto o andebol feminino português não der o "salto" que permita ter profissionais, continuará a perder atletas.