A Mulher da Semana: Helen Clark e o combate à desigualdade de género no desporto
Antiga Primeira-Ministra da Nova Zelândia alerta para a diferença de tratamento e oportunidades e deixa algumas sugestões
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A disparidade entre homens e mulheres no desporto é um tema que ainda tem muito por onde crescer e desenvolver. As diferenças, desde o tratamento às oportunidades, abrangem todas as modalidades um pouco por todo o mundo, pelo que é sempre pertinente dar eco a apelos que chegam de quem ocupa posições de responsabilidade.
"Os homens também podem ter as vidas mais orientadas para a família, isso deve ser visto como algo normal."
Helen Clark, 69 anos, foi primeira-ministra da Nova Zelândia entre 1999 e 2008, no quinto mandato mais longo do país, além de também ter sido administradora do programa de desenvolvimento das Nações Unidas. Esta semana, Clark participou num evento que visava precisamente abordar a participação de mulheres no mundo do desporto.
As críticas foram duras perante um cenário pouco animador. Na Nova Zelândia, 70% dos treinadores são homens, que também ocupam 60% das posições de liderança e 73% dos cargos de diretoria.
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Para Clark, não há justificação para isto, nem uma suposta falta de mulheres por si só. "Há verdadeiras formas de assegurar que há mulheres em todos os níveis. Elas estão sempre lá e nunca se deve aceitar a desculpa de que não é possível encontrar mulheres para esses cargos. Elas estão aí. Há mulheres incríveis que se destacaram no mundo do desporto e há outras com experiência em papéis diretivos no mundo empresarial que dariam uma enorme contribuição", argumentou Helen Clark.
As amostras de disparidade, no entanto, não se ficam por aqui e notam-se nas pequenas coisas. A seleção feminina de râguebi (desporto altamente importante no país) é pentacampeã mundial, mas, na última edição da prova, viajou em classe económica, o que seria aceitável se os All Blacks não viajassem em executiva.
Por outro lado, um estudo sobre a cobertura mediática do desporto na Nova Zelândia enumerou as palavras mais utilizadas para descrever os atletas masculinos: "génios", "dominante", "bom", "rápido". E as palavras mais utilizadas para as mulheres? "Casada", "solteira", "grávida".
"As pessoas que, nas redações, decidem o que vai para o ar ou o que vai ser impresso têm de ter alguma sensibilização para o trabalho incrível que as mulheres da Nova Zelândia fazem no desporto", apelou Helen Clark.
Na opinião da ex-primeira-ministra, os homens também podem contribuir para encorajar as mulheres a investir no desporto, se se chegarem à frente na partilha das tarefas domésticas e familiares.
"Os homens também podem ter as vidas mais orientadas para a família, isso deve ser visto como algo normal. Eles são muitas vezes livres de escolherem a carreira que querem, seja no desporto ou não, com a consciência de que outras pessoas vão lidar com as questões familiares. As mulheres adoram isso, mas o problema é que são deixadas para trás", alerta Clark.
Não é falta de mulheres, é falta de oportunidades.
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