A Mulher da Semana: Bárbara Sequeira ganhou medalhas? O exame é amanhã às 10
O caso da atleta que saltou do pódio para uma mesa de exame apela a uma reflexão.
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Bárbara Sequeira, Francisca Maia e Francisca Sampaio Maia, trio de ginastas Acro Clube da Maia, brilhou nos Jogos Europeus, que decorrem na Bielorrússia. Duas medalhas de prata e uma medalha de bronze, num feito inédito no desporto português, que teve direito a uma receção apoteótica no Aeroporto Francisco Sá Carneiro.
Só não têm direito às devidas condições para conciliarem a ginástica com os estudos no Ensino Superior.
Bárbara Sequeira, 23 anos, é estudante no mestrado integrado em Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Regressou ao Porto na segunda-feira às 21 horas e, às 10h20 do dia seguinte, teve de fazer um exame. Até estava inicialmente marcado para as nove, mas Bárbara conseguiu trocar de turno com uma companheira da curso, para, explicou, "acordar mais cedo para estudar mais uma hora e vinte". Já Francisca Maia, 20 anos, estuda Medicina.
O estatuto de estudante-atleta que foi aprovado em Conselho de Ministros no início de 2019 vai, a partir do próximo ano letivo, uniformizar os direitos e deveres dos que tentam conciliar estudos com desporto. Antes, só os que eram considerados atletas de alta competição podiam ter direito a relevação de faltas, adiamento de entrega e apresentação de trabalhos e de outros momentos de avaliação, além de terem prioridade na escolha de horários e a possibilidade de realizar dois exames adicionais na época especial. Com a alteração na legislação, os atletas federados também ficam ao abrigo deste estatuto e deixam de estar dependentes dos juízos de professores, reitores ou conselhos pedagógicos. Em troca, todos devem ter aproveitamento escolar.
Se o exemplo de Bárbara faz levar as mãos à cabeça, basta ver que a judoca Telma Monteiro viu-se forçada a trocar de instituição de ensino superior, tal as dificuldades que lhe eram levantadas...na Faculdade de Motricidade Humana. Irónico, não?
Não se trata de facilitar a vida, como se os beneficiários deste estatuto fossem pessoas privilegiadas e não pessoas que se sujeitam a uma disciplina de organização e dedicação a que muito poucos conseguiriam responder.
Se, por exemplo, podem fazer os exames mais tarde para competirem nas provas, muitas vezes em nome de Portugal, isso significa que em centenas de dias acordaram de madrugada ou adormeceram bem depois da hora para treinarem e estudarem. Com prejuízo na vida social e pessoal, longe do que considera uma "vida normal" para estas idades. Não é uma brincadeira, não é veículo para passar pelo ensino superior de assobio.
Em declarações a O JOGO, Bárbara admitiu que ia tentar o seu melhor no exame para, pelo menos, chegar aos 10 valores.
Mas é isso que se quer realmente? Com certeza que Bárbara desejaria atingir notas tão altas na faculdade como aquelas que obtém na ginástica, mas, com exemplos como este, é complicado exigir tal coisa, por maior que seja a "flexibilidade" da ginasta.
Quantos grandes atletas se perderam porque os estudos passaram para a frente? Quantas licenciaturas ficaram pelo caminho porque o desporto acabou por levar a melhor? Não devia ser quase obrigatório escolher entre dois mundos, que às vezes parecem opostos quando jamais deveriam ser.
A carreira desportiva é curta em comparação com outras e os atletas devem estar munidos das ferramentas necessárias para seguirem outros caminhos quando a terminam, da mesma forma que um estudante do ensino superior deve ser encorajado para a prática desportiva.