Matilde Costa Dias foi eleita para integrar o painel da FIA onde chegam processos como o que resultou na multa de sete milhões à Red Bull
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Desde o dia 1 deste mês, a fiscalização do cumprimento dos regulamentos financeiros da Federação Internacional do Automóvel (FIA), em particular na Fórmula 1, vai passar pelas mãos de uma portuguesa. Aos 32 anos, Matilde Costa Dias foi eleita para integrar o Cost Cap Adjudcation Panel (CCAP), onde chegam processos como o que resultou numa multa de sete milhões euros para a Red Bull, por violar o teto orçamental de 145 milhões.
Ligada ao Direito do Desporto desde 2014, cumpriu os primeiros seis anos em Barcelona e voltou a Portugal em 2020, para se juntar ao escritório da 14 Sports Law. Dedicou-se ao futebol e agora procura ir mais longe. "Inevitavelmente as matérias, sejam disputas de contratos, sejam transferências, versam mais o futebol. Já há muito que queria tentar outras modalidades. A 14 Sports Law tem clientes como Tiago Monteiro ou António Félix da Costa. Juntando isso à curiosidade que tenho pelo automobilismo, incutida pela família, tentei a minha sorte", contou a O JOGO.
Especializada em Direito do Desporto, a advogada de 32 anos quis ir além do futebol, apresentando uma candidatura com o apoio da FPAK, e contou a O JOGO todo o percurso e o que espera encontrar.
Através da rede de contactos que foi criando, dos anos vividos em Espanha, Matilde soube da abertura do concurso para o CCAP. Como os candidatos tinham de ser propostos pelas equipas de Fórmula 1 ou por membros da FIA, foi necessário o apoio da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting. "O feedback foi positivo. Às vezes, encontramos nestes meios alguma inércia, mas na FPAK foi o oposto. Encontrei um conjunto de profissionais muito diligentes, sempre dispostos a ajudar", recorda.
"É interessante pegar na ideia do fair-play financeiro do futebol e aplicar ao automobilismo"
Apesar de nunca se ter debruçado sobre os regulamentos financeiros da F1, porque "é algo recente", a lisboeta considera "interessante pegar na ideia base do fair-play financeiro do futebol e aplicar ao automobilismo", perspetivando como vão ser os quatro anos de mandato que tem pela frente: "Os casos que chegam são avaliados em primeira instância pela Cost Cap Administration [Administração de Limites de Custo]. Só se encontrarem uma potencial violação nos regulamentos é que o caso é reencaminhado para a minha comissão. Se não tiver muito trabalho, é sinal de que os regulamentos financeiros estão a ser aplicados à risca".
"Sinto que ainda estou a desbravar caminho"
Surpreendida pela eleição - "ainda mais sendo jovem e mulher...", acrescenta -, Matilde Costa Dias diz que, quando estudava na Universidade Católica, "não se falava em Direito do Desporto". "Tínhamos escritórios de advogados que faziam operações pontualmente, mas não podiam viver só disso. Voltar ao meu país e fazer isto parecia uma missão impossível. A 14 Sports Law foi pioneira e tenho a sorte de até hoje nunca ter mexido noutra área, mas ainda me sinto a desbravar caminho", afirma, estimando que em Portugal existem umas 15 mulheres com a sua especialização.
Central nos Salesianos de Lisboa e pela Católica, Matilde já tinha tentado as instâncias internacionais da modalidade que jogou.
Mais de uma década no voleibol
Antes da FIA, Matilde Costa Dias procurou outros organismos. "Tentei a Federação Internacional de Voleibol, que pratiquei toda a vida, e nunca responderam", relata sobre a modalidade que jogou mais de uma década, grande parte nos Salesianos de Lisboa. "A equipa era praticamente toda federada e havia um leque de competições abrangente. Não era só o Desporto Escolar ou o federado, era também o desporto entre a comunidade salesiana a nível mundial. Quando passei para a Católica, que também tinha uma equipa de voleibol, fui fazendo desporto académico", explica a antiga central, para quem juntar Direito e desporto foi "o melhor dos dois mundos". Em 2022, a jovem fez parte da lista vencedora das eleições para a Federação Portuguesa de Surf, presidindo ao Conselho de Justiça até 2026.
Prémio para incentivar mulheres
Fundada em 2017 por Bernardo Palmeiro, advogado do Sporting, e Luís Cassiano Neves, antigo diretor-geral do Belenenses e ex-presidente da Federação Portuguesa de Râguebi, a 14 Sports Law, que tem a sede no Porto, vai procurando lançar mais mulheres no Direito desportivo. "Foi criado um prémio/bolsa, cuja missão é oferecer um ponto de partida para mulheres licenciadas em Direito que tenham interesse nesta área. Se conseguirmos apoiar uma que seja a entrar, para mim já vai valer a pena", realça Matilde Costa Dias.
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