Dagoberto representou União de Lamas e Espinho, dois clubes que se defrontam na AF Aveiro.
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Longe do patamar dos duelos de grande intensidade, nervo e bairrismo de outros tempos, União de Lamas e Espinho vão cruzar-se na luta pelos primeiros lugares na Distrital de Aveiro, quando são 2º e 3º na perseguição de outro histórico como a Ovarense. Nos anos 90, os papa-tintos e os desnorteados foram adversários clássicos na Liga de Honra com vários embates, marcados de competitividade e rivalidade.
Falamos com Dagoberto, guarda-redes brasileiro, campeão pelo Corinthians em 1990, que chegaria a Portugal já numa fase tardia da carreira para defender as cores dos lamacenses, em 1992/93, envergando depois a camisola dos tigres da Costa Verde. Com 61 anos, Dagoberto falou com o JOGO sobre os momentos vividos nestes dois emblemas marcantes e de pergaminhos, embora só o Espinho se possa orgulhar de trajeto na 1ª Divisão.
"Tive a felicidade de jogar em ambos, acompanho muito um e outro e é uma pena ver que estão tão afastado dos palcos maiores. Tenho grandes recordações, tal como do Feirense. Fui muito feliz em Portugal, onde fiz grandes amigos", salienta o antigo guarda-redes, hoje de 61 anos, trabalhando na secretaria de Desporto do município de Embu das Artes.
"É uma pena estarem nestas divisões. Eu vi de perto o grande esforço de muita gente para elevar o prestígio e marcar a grandeza de Lamas e Espinho. Subiram degraus com muita luta e sacrifício dos seus dirigentes, uma lástima não ter tido continuidade. Vou estar sempre torcendo por um e outro", declara Dagoberto, rebobinando episódios inesquecíveis. "No Lamas participei de uma subida à Liga 2 e foi uma festa enorme. Ainda para mais tinha defendido um penálti. No Espinho compreendi o potencial do clube, não dá para acreditar ver onde está hoje. Tivemos jogos incríveis, é triste saber o que tem passado. Vou guardar sempre a minha estreia pela equipa na 1ª Divisão com o Benfica, na Luz", revela.
Dagoberto dobra-se o baú para agarrar imagens mais nítidas das longínquas temporadas em Portugal. "Tenho saudades de muita gente, no Lamas lembro o Faria, Real, Luís Miguel, que ainda recentemente visitei quando estava a trabalhar no Corinthians com Vítor Pereira. Não esqueço o roupeiro Quinzinho e tantas pessoas maravilhosas", recorda, viajando até Espinho. "Tínhamos Duka, Pedro e Carvalhal mas eu quero destacar o treinador Edmundo Duarte. Um grande homem, dos melhores que conheci", assinala Dagoberto, desafiado ainda a puxar a fito da história mais divertida. "Foi com o zairense Kipulu no Lamas. Nós corríamos e ao passarmos por uns cães, ele foi atacado. Sem falar português e todo atrapalhado só dizia que os 'cães não gostavam dos pretos e eram racistas'. Isso rendeu muitas risadas", nota, passando esperança a adeptos de Lamas e Espinho, sem antecipar vitória. "Espero que tenham fé, um dia o vosso destino muda e vão aparecer mais fortes."
Nota que Lamas e Espinho deram tiro de partida a vários duelos na Liga 2 em 1994/95. Passando a vista pelas equipas, curioso constatar a presença do lateral direito Rui Óscar no Lamas (também jogava Beto, que seria capitão do Sporting), e o lateral-esquerdo Mariano no Espinho, que haviam sido companheiros toda a formação no FC Porto e haviam chegado a estes clubes por cedência após terem sido campeões de juniores nos dragões.