"Pedro Gonçalves dormia e comia com a bola, mas nunca me disse que queria ser jogador"
Mãe do jogador do Sporting, que começou no Vidago, lembra os tempos em que vivia com os filhos nas instalações do clube. Maria da Conceição foi roupeira durante dez anos no clube de Chaves. E em seis deles, as instalações do Vidago foram a casa de família. Pode estar aí a razão do fascínio de Pote pelo futebol...
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Maria da Conceição, mãe de Pedro Gonçalves, foi roupeira do Vidago durante seis anos, período no qual utilizou parte das precárias instalações da mais antiga instituição desportiva do concelho de Chaves. Mas a O JOGO só recordou bons momentos, confessando, com um carinho maternal, “as muitas saudades” que tem do seu “Potinho” da altura.
“Este espaço diz-me muita coisa. Foi onde os meus filhos se criaram e começaram a jogar à bola. O Pedro esteve aqui dois anos e depois foi para o Chaves e seguiu a vida dele. Esteve no Braga até aos 17 anos, levámo-lo para o Valência [Espanha], como ele era menor tive que ir com ele. Dois anos depois foi para Inglaterra, a seguir Famalicão e agora está no Sporting”, começou por lembrar, com indisfarçável orgulho e merecida vaidade, alguém que confessou não achar grande piada que lhe chamem a “Dolores de Vidago”, numa referência à mãe de Cristiano Ronaldo.
Maria da Conceição relembrou os tempos da vida no campo de jogos do Vidago, entre 2002 e 2012. “Morávamos todos aqui. Ele [Pote] ajudava-me a pôr a roupa e estava sempre à espera dos jogadores. Ficava aí à porta, via-os a entrar ali adiante e dizia… “Ó mãe, já ali vem o Caló”, que era o treinador, de que ele gostava muito. Na altura o campo era todo em terra batida e quando chovia eu dizia-lhe e ao irmão que também jogava cá: “Pedro e André, vinde para dentro, mas eles só vinham quando acabava o treino. O Pedro gostava muito de jogar à bola. Dormia com a bola, comia com a bola, mas nunca me disse que queria ser jogador”, confessou.
Agradada por ele e os restantes três filhos serem “muito agarrados à família”, deixou no ar um desejo aparentemente não cumprido. “Nunca esperei que ele fosse jogador de futebol, porque ele cantava muito bem. Andava sempre a jogar e a cantar…”.
De resto, adiantou que, tal como no passado, ainda hoje Pedro Gonçalves é um bom prato, como se diz na gíria. “Na altura, ele comia tudo. Grão com feijão ou essas coisas que ele adora. Ainda hoje lhe pergunto às vezes o que ele está a comer, e ele diz grão de bico com cebola. Gosta muito dessas coisas e da bola de carne aqui de Trás-os-Montes. Mas agora não pode abusar porque tem que fazer aquela dieta dos jogadores”, terminou.
Pote: de Vidago a Lisboa
É a imagem de marca do clube. Pedro Gonçalves, o “Potinho” como diz a legenda de uma fotografia emoldurada na sala da direção do Vidago, dos tempos em que Pedro Gonçalves, com oito anos, em 2006, desafiava, apesar de gordinho, os maiores nos treinos pelos quais ansiosamente esperava enquanto ajudava a mãe. Dois anos depois, chegava ao Chaves, depois Valência, Wolves (Inglaterra), regressou a Portugal, ao Braga, estreou-se como sénior em Famalicão e hoje é das principais figuras do atual líder do campeonato, o Sporting.
Aos oito anos, Pote já tinha mira certa
Atual guarda-redes do Vidago lembra os tempos que o jogador do Sporting lhe fazia “doer as mãos”.
Diogo Lopes é, atualmente, o único jogador do Vigado com quem Pedro Gonçalves, estrela do Sporting, partilhou balneário na coletividade da vila de Chaves, de 2006 a 2007. No escalão de Escolinhas, tinha ele dez anos e oito o “Potinho”, como ainda hoje é conhecido na pequena localidade transmontana o jogador dos leões. Filho do atual presidente, Diogo Lopes recorda alguns dos momentos vividos na altura com Pedro Gonçalves. “Lembro-me do Pedro pequenino, com a alcunha de Potinho por ser gordinho, mas muito rápido. Estreei-me com ele no primeiro jogo, lembro-me muito bem, foi contra o Diogo Cão”.
O guarda-redes da equipa principal do Vidago, hoje com 27 anos, mais dois do que Pote, confirma que, já na altura, o antigo colega tinha a mira bem afinada para a baliza. “Ele tem bastantes episódios da altura a treinar com os seniores, já com aquela idade, a bater livres para acertar na barra. E, em cinco tentativas, muitas vezes acertava quatro e às vezes até as cinco vezes”. E conta que ele, à época, “já era o craque, apesar de jogar em dois escalões acima para a idade dele. Destacava-se pela qualidade e velocidade. Tinha um potente remate que também já me fazia doer as mãos nos treinos”.
Num plano mais pessoal, o guardião relevou o facto de Pedro Gonçalves ter sido sempre “um rapaz que não saía muito, não estabelecia grandes interações com outras pessoas. Tinha o mundinho dele, era uma pessoa bastante discreta. E mesmo quando já estava num nível como o Valência, vinha cá e jogava connosco de vez em quando futsal, em torneiozinhos de verão e tudo mais, mas sempre foi muito discreto”, concluiu.