Uma época depois, o Braga, colhendo golos nos erros de um FC Porto que chegou tarde à final da Taça de Portugal, viu-se vencedor e, face à reação adversária, imaginou-se de novo em lágrimas. "Arriscou" as penalidades e, passados 50 anos, ergueu o caneco
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A receita do Braga para, 50 anos depois, vencer a Taça de Portugal pela segunda vez, tinha um sublinhado humilde: organização defensiva, linhas próximas e crença absoluta no erro, ou melhor, no disparate do FC Porto na retaguarda. Foi assim que a equipa guiada por Paulo Fonseca escavou um golo na primeira parte, com Rui Fonte a aproveitar o brinde proporcionado por Chidozie e Helton, e descobriu ainda outro antes de se atingir a hora de jogo no Jamor, cabendo a Josué colher o fruto da precipitação de Helton (outra vez...) e Marcano em novo lance que dava ideia de ser tudo menos de perigo iminente. Os corações arsenalistas dispararam: falhado em maio de 2015, o triunfo desfilava por ali, diante dos olhos, mas o texto de vencedores e vencidos estava ainda por fechar. Juntou-se-lhe a carga emotiva e dramática, por decreto da reação dos portistas, que reduziram a diferença e, em pleno período de descontos, inventaram o 2-2, sempre com André Silva na finalização, a segunda então num rasgo de classe (pontapé de bicicleta) que misturou qualidade e desespero. Os minhotos temeram a reedição do fracasso da época anterior, até porque já não tinham pernas para regatear outro desfecho no prolongamento, mas a verdade é que os dragões também frustraram os seus simpatizantes, não mostrando fôlego nem ideias para mais. Nas grandes penalidades, Marafona fez-se herói: parou duas, encomendou o champanhe e adensou (para mais de três anos) o jejum de títulos do FC Porto.
A responsabilidade nesta partida pesava claramente mais nas costas de José Peseiro e da sua equipa, que, no entanto, levou 45 minutos a perceber que estava na final da Taça. No ataque, a circulação de bola foi feita num ritmo baixo, ótimo para quem defendia, mas péssimo para o coletivo que estava obrigado a forçar espaços e a criar desequilíbrios. Instável atrás, porque Chidozie se mostrava vulnerável e gerava desconfiança, o onze portista - que começou por ter Herrera próximo do avançado André Silva e Sérgio Oliveira ao lado de Danilo no miolo - não dava passos seguros. Até ao intervalo, nem um remate que incomodasse Marafona.
Após o descanso, Peseiro tirou Chidozie, baixou Danilo para central e plantou Rúben Neves no meio-campo. A dinâmica melhorou perante um Braga que se mantinha fiel ao registo. Herrera, num tiro de primeira, ficou perto do 1-1, mas no minuto seguinte deu-se o 0-2. A folga abalou por instantes a concentração e o rigor dos comandados de Paulo Fonseca; cederam e o inconformado e oportuno André Silva aproveitou, marcando e restaurando a esperança entre os azuis e brancos.
O andamento do FC Porto foi mais intenso após a entrada de André André, que, tal como Rúben Neves, acrescentou critério e precisão. Já com Aboubakar ao lado de André Silva, num 4x4x2 que empurrou Herrera para a direita, arrastou in extremis o desfecho para prolongamento, mas aí não foi capaz aplicar o golpe de misericórdia num Braga que, unindo as forças que restavam, resistiu e apostou nas penalidades. E desta vez pôde sorrir e pular.