Presidente do Rio Ave há sete anos, António Silva Campos sente-se feliz com a mudança operada no clube a todos os níveis, das infraestruturas à mentalidade da equipa. E faz questão de dividir os louros
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Os lugares europeus do campeonato e as eliminatórias decisivas das Taças nacionais passaram a ser o "habitat" do Rio Ave. António Silva Campos recebera uma pesada herança ao assumir a liderança do Rio Ave, mas colocou-o no trilho das melhores épocas dos seus 77 anos, festejados na última semana.
O Rio Ave tem vivido um crescimento grande, indo a finais e a provas europeias. O presidente do clube é o grande responsável pelo que tem acontecido?
-Não podemos esquecer que todo este trabalho que o Rio Ave tem feito só é possível com uma grande equipa de trabalho. Os resultados falam por si e o trabalho é de toda a equipa.
Mas quais as razões para o sucesso?
-Tínhamos consciência, quando assumimos a Direção, de que iríamos ter muitas dificuldades e de que iria exigir muita dedicação. Foi isso que nós fizemos, tomando decisões que sabíamos de antemão que não eram fáceis. No passado, o clube era muito dependente da autarquia e dos amigos do Rio Ave, e não foi fácil perder esses apoios numa conjuntura económica atual muito complicada. Tivemos de implementar uma mentalidade de criar ativos no clube, até porque tínhamos uma equipa muito veterana e dificilmente conseguiríamos vender jogadores. Tivemos de mudar essa mentalidade e apostar em equipas mais jovens, conseguindo vender ativos e dar sustentabilidade ao clube, que era a única solução perante as dificuldades de mercado, que dificultaram o apoio de empresários da região ao Rio Ave.
E fizeram transferências que acabaram por ajudar...
-Procurámos construir plantéis que permitissem vender jogadores no final de cada época. Tivemos a sorte de fazer alguns bons negócios para ultrapassar as nossas dívidas, mas demorou quatro anos para ultrapassar essas dificuldades e só depois disso começámos a pensar em investir numa equipa de futebol que desse mais alegrias aos sócios.
No seu percurso como dirigente, inspirou-se em alguém como modelo?
-Não. Quando fui convidado pelo presidente [da Câmara] Mário de Almeida para assumir este projeto, sabia muito bem a situação que iria encontrar e tinha de criar soluções que passavam pela tal criação de ativos no final de cada época. Para o conseguir, tive de perceber quais eram os bons empresários portugueses no futebol que nos podiam ajudar e foi o que fiz, pedindo que nos trouxessem jovens de qualidade. E foi nisso que me inspirei, criando um modelo de negócio para ter uma solução que antes não tinha sido explorada.
O nome do Jorge Mendes é incontornável...
-Sim, apareceu o Jorge Mendes, que entendeu perfeitamente o meu projeto, mas falei com mais empresários, como o António Teixeira, o António Araújo e outros, que têm colocado jogadores no Rio Ave e ajudado o clube.
Sendo realidades diferentes, em Inglaterra o Leicester sagrou-se campeão contra todos os prognósticos. Um clube como o Rio Ave pode sonhar com isso em Portugal, ou é impossível?
-Não desprezando os três clubes grandes, já temos o exemplo recente do Boavista, que foi campeão. Por que não o Rio Ave um dia mais tarde? O Boavista conseguiu, contra tudo e todos, ser campeão e é um bom exemplo em Portugal. Claro que, neste momento, esse passo ainda está um pouco atrasado e primeiro temos de pensar em criar uma grande estrutura e tornar-nos muito mais fortes internamente, pensando um dia mais tarde dar um passo maior. Não vamos deixar de ser ambiciosos, mas esse é um passo muito grande e para já lutamos pela Liga Europa, o que já é muito bom.