Carta aberta do treinador francês evidencia amargura com o tratamento que teve no clube.
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Zinedine Zidane, treinador que deixou o comando técnico do Real Madrid no final desta temporada, explicou, numa carta aberta, as razões que o levaram a deixar o clube merengue.
"Em março de 2019 aceitei voltar a treinar o Real Madrid, depois de uma pausa de oito meses, porque o presidente Florentino Pérez me pediu, mas também pelo que vocês disseram. Sempre que encontrava um de vós nas ruas sentia o apoio e o desejo de voltar a estar à frente da equipa. Eu também partilho os valores do madridismo. Este clube é dos sócios, dos adeptos e do mundo inteiro", introduziu o técnico francês, passando depois a explicar as razões para o desfecho.
"Agora decidi sair e quero explicar as razões. Vou-me embora, mas não estou cansado de treinar. Em maio de 2018 saí porque depois de dois anos e meio com tantas vitórias e troféus senti que a equipa precisava de um novo discurso para manter-se ao mais alto nível. Hoje as coisas não são assim. Vou-me embora porque sinto que o clube não me deu a confiança que precisava e não me ofereceu o apoio para construir algo a médio e longo prazo. Conheço o futebol e conheço a exigência de um clube como o Real Madrid", apontou.
"Gostava que a minha relação com o clube e com o presidente tivesse sido um pouco diferente nestes últimos oito meses"
"Sou um vencedor nato e estava aqui para ganhar troféus, mas para lá disto estão as emoções, a vida e a sensação de que estas coisas não foram valorizadas e que não se percebeu que estas coisas ajudam a manter a dinâmica de um grande clube. De certa forma, até me senti censurado. Quero que aquilo que todos fizemos seja respeitado. Gostava que a minha relação com o clube e com o presidente tivesse sido um pouco diferente nestes últimos oito meses. Não pedia privilégios, mas sim um pouco mais de memória. Hoje a vida de um treinador num grande clube é de duas temporadas, não muito mais do que isso. Para que isso dure mais as relações humanas são essenciais e mais importantes do que o dinheiro, do que a fama e do que tudo. Temos que cuidar disso. Por isso magoava-me tanto quando lia na imprensa, depois de cada derrota, que me iam despedir se não ganhasse o próximo jogo. Magoava-me a mim e a toda a equipa porque estas mensagens intencionalmente lançadas nos meios de comunicação criavam atritos no plantel, semeavam dúvidas e mal-entendidos", lamentou.
Os jogadores, esses, mereceram os mais rasgados elogios. "Ainda bem que tinha uns miúdos maravilhosos que estavam comigo até à morte. Quando as coisas ficaram feias, salvaram-me com grandes vitórias. Porque eles acreditaram em mim e eles sabiam que eu acreditava neles. Claro que não sou o melhor treinador do mundo, mas sou capaz de dar a força e a confiança que todos precisam no seu trabalho, seja ele jogador, membro da comissão técnica ou qualquer funcionário. Eu sei exatamente o que uma equipa precisa. Ao longo destes vinte anos de Madrid aprendi que vocês, adeptos, querem ganhar, claro, mas, acima de tudo, querem que demos tudo, o treinador, a equipa, os funcionários e, claro, os jogadores de futebol. E posso garantir que demos 100% de nós pelo clube", pode ler-se.