"Vi soldados correrem com espingardas. Parecia o 'Call of Duty'", diz colega de Taarabt
Seleção de Marrocos ficou retida num hotel, na Guiné-Conacri, para se proteger durante um golpe de Estado para destituir o presidente em exercício. Rei possibilitou a saída
Corpo do artigo
Viajada para a Guiné-Conacri, em 4 de agosto, para enfrentar a congénere local, em jogo de apuramento para o Mundial'22, a seleção de Marrocos presenciou, segundo o capitão Romain Saiss, cenas bélicas dada a situação política e económica no país.
"Vimos carros cheios de soldados à porta do nosso hotel. Não era guerra, mas quase. Ouvimos tiros, alguns jogadores pensavam que era fogo de artifício. Explicaram que o golpe tinha sido levado a cabo por militares e ficamos conscientes do que se estava a passar. Vi soldados correrem com espingardas na mão. Parecia que estávamos no [jogo] 'Call of Duty'", contou o defesa do Wolves, ao jornal 'Le Dauphine'.
A extensa comitiva dos 'Leões do Atlas', da qual fazia parte o marroquino Taarabt (Benfica), ficou forçosamente retida num hotel, enquanto decorria o golpe de Estado, e o jogo ante a Guiné-Conacri, relativo à segunda jornada do grupo I da zona africana de qualificação para o próximo Campeonato do Mundo, foi até adiado.
"A equipa está segura e alojada num hotel que se localiza um pouco longe da zona de tensão. As autoridades marroquinas estão a trabalhar para evacuar a equipa hoje [dia 5]. Um avião já está no aeroporto para essa operação", referiu Mohamed Makrouf, um funcionário da Real Federação Marroquina de Futebol, à AFP.
Nesse dia 5, a seleção de Marrocos realizou, horas depois do refúgio, uma atribulada viagem sob escolta militar, que durou entre 45 e 60 minutos, entre o hotel onde se protegeu durante aquele tempo apreensivo e o aeroporto da Guiné, para embarcar de regresso ao seu país.
Porém, segundo o internacional marroquino Amrabat, o avião destinado aos 'Leões do Atlas' estava "bloqueado" por outros militares do exército da Guiné-Conacri e a permissão para viajar só foi conseguida com a "intervenção do rei de Marrocos".
A retenção da seleção de Marrocos e o próprio adiamento do jogo com a Guiné-Conacri deveu-se ao facto de, há três dias, vários militares terem derrubado o presidente Alpha Condé, em Conacri, por força de uma crise política e económica.
O líder político foi, segundo as forças especiais militares do país africano, capturado, as instituições governamentais dissolvidas e as fronteiras encerradas. Porém, o Ministério da Defesa contrariou a informação de que o golpe de Estado tinha sido concretizado.
Até à ocorrência desse acontecimento, não foram registadas quaisquer mortes e, entretanto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou o sucedido e pediu a libertação imediata de Alpha Condé, que fora filmado detido pelos militares.
Nos últimos meses, a Guiné-Conacri, um dos países mais pobres do mundo, enfrenta uma grave crise política e económica, piorada pela pandemia de covid-19. O presidente Alpha Condé foi reeleito no ano passado para um terceiro mandato, mas foi considerado inconstitucional pela oposição, o que gerou meses de tensão.