"Vamos levar Ronaldo a esquecer a época da Juventus e a manter-se só focado na Seleção"
ENTREVISTA - O selecionador nacional não aceita que se coloque em causa a presença na equipa de um jogador com a qualidade do capitão e diz que lhe compete aproveitar ao máximo as suas características em campo.
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Fernando Santos lembra que não se pode olhar para Ronaldo como há alguns anos, que já não é o extremo que fazia piscinas no corredor.
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Cristiano Ronaldo continua a ser a grande referência, apesar dos seus 36 anos, mas não está a ter uma época particularmente feliz, sobretudo do ponto de vista coletivo. Pensa que isso pode condicionar o seu desempenho?
-Acho que não e espero que não. Acho que eu tenho capacidade para o convencer a não se deixar influenciar por isso. Acredito que ele terá capacidade de reverter este momento, como já fez noutras fases da sua carreira, porque ele não esteve sempre em alta, também teve alguns momentos menos bons, não diria baixos. O Cristiano teve sempre grande capacidade de trabalho e entrega para dar a volta por cima. Acho que vamos levá-lo a esquecer a época da Juventus e a manter-se só focado na Seleção. Mas cada homem é um homem e estamos a falar de uma pessoa que tem a sua própria personalidade. Posso dizer, por exemplo, que convoquei alguns jogadores para o campeonato do Mundo e se soubesse o que sei hoje não os teria levado.
Também se fala muito da questão do posicionamento do Cristiano em campo e da forma como isso condiciona o resto da equipa...
-Mas o que podemos fazer em relação a isso? É normal isso acontecer.
"Acho que vamos levá-lo a esquecer a época da Juventus e a manter-se só focado na Seleção"
Mas em seu entender, onde é que o Cristiano Ronaldo pode render mais e ser mais útil?
-Isso vai depender do jogo, do adversário. Por exemplo, onde é que o Cristiano jogou no Europeu passado? Jogou num ataque a dois, com o Nani. Não é uma novidade ele jogar nas zonas centrais, mas também já teve outros períodos, até posteriores a esse, em que jogou a vir mais da esquerda, nomeadamente numa fase do apuramento para o campeonato do Mundo. Jogava o André Silva mais no meio. A equipa mudou mais para um 4x3x3. Tínhamos vindo de um campeonato da Europa onde jogávamos num 4x4x2 que era mais um 4x2x3x1, porque o Nani fazia isso na perfeição, mas a jogar com dois alas que eram médios: na primeira fase o André Gomes e o João Mário e na fase a eliminar o Renato Sanches e o João. No Mundial deixou de ser assim e mais ainda depois da Rússia, muito mais vincado o 4x3x3. Em alguns jogos até sem o Cristiano e noutros a ser utilizado como avançado mais central. Isso também tem que ver com o sentir das suas capacidades físicas, momento de forma. Disse-lhe uma vez, quando ele saiu do Sporting com 18 anos, que achava que ele podia ser um grande ponta de lança se quisesse, porque podia jogar em qualquer lado, mas notoriamente, naquela idade, era um jogador terrível a jogar sobre a linha, era um extremo. Ele hoje já não é mais esse jogador. Ninguém aos 36 anos pode andar a fazer piscinas de 50/60 metros consecutivamente. Agora, não retirar partido desse jogador? Não faz sentido. A Seleção será melhor com Cristiano Ronaldo ou sem ele? É uma discussão académica. Para mim a questão é: Ronaldo condiciona pela posição em campo, não. Condiciona porque não defende, ou está praticamente fora do processo defensivo. Não o forçamos a defender tanto, para aproveitar as suas características. Ele vir atrás do lateral até à defesa não faz sentido. Se jogar num sítio, tenho de colocar um jogador que o compense, se jogar noutro sítio tenho de fazer as compensações de outra forma. Eu não posso é ter quatro jogadores que não defendem porque, e isso posso garantir, uma equipa assim não vai ganhar a ninguém. Olhem o City do ano passado. Este ano ganha porque corrigiu o processo defensivo. Tenho um jogador como o Ronaldo, mas não podemos jogar com dez, eventualmente podem jogar dois ou três numa equipa em 4x3x3, mas mesmo assim tenho dúvidas.