"Vai mudar e é positivo. Nunca concordei que pagassem 160 milhões de euros por um jogador"
Jaume Roures, diretor executivo da Mediapro, garante que os contratos atuais serão honrados, mas os clubes teêm de mudar de vida
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Os dias das transferências estratosféricas de futebolistas na Europa acabaram. Os clubes vão deixar de poder gastar centenas de milhões na aquisição de jogadores, porque as televisões, uma das principais fontes de receita, vão reduzir os investimentos no futebol. Essa é, pelo menos a convicção de Jaume Roures, diretor executivo da operadora de media espanhola Mediapro.
A empresa Mediapro pode desempenhar um papel participante importante na ajuda aos clubes que sobrevivam à crise financeira causada pela pandemia de coronavírus, uma vez que recuperou os direitos de transmissões das francesas Ligue 1 e da Ligue 2 para os próximos quatros anos. O acordo, fechado em tempos mais otimistas, foi conseguido por 1,153 mil milhões de euros. A Meadipro, agora detida maioritariamente por capital chinês, também tem os direitos de transmissão da liga espanhola mas só em bares e restaurantes.
Sky Sports e BT Sport, emissoras que no Reino Unido tem os direitos da Premier League inglesa, e a Sky na Alemanha, mantêm-se nesta altura atentos às posições da Mediapro, cujo contrato para operar nas ligas profissionais francesas começa em agosto mas até agora ainda não configurou um canal.
"Os valores gastos com direitos, em geral, já atingiram o máximo", disse Roures. "É óbvio que os direitos de televisão serão afetados por isto"
Em entrevista à AFP, Roures insistiu que o acordo já estabelecido com os clubes franceses "não mudará", mas ficou mais cético quanto às quantias que as emissoras poderão gastar em novos acordos no futuro. "Os valores gastos com direitos, em geral, já atingiram o máximo", disse Roures. "É óbvio que os direitos de televisão serão afetados por isto".
Quaisquer reduções atingirão os clubes com força. Por exemplo, no Barcelona, um dos clubes mais ricos do mundo, o valor do contrato televisivo representou cerca de 35% da sua receita total na última temporada. Para o campeão europeu, Liverpool, o percentagem foi ainda maior, atingindo quase 50%.
"Os dias dos clubes de futebol pagarem centenas de milhões de euros pelos jogadores acabaram", diz Roures. "Porque os clubes ficarão sem dinheiro e porque os bancos não emprestarão dinheiro aos clubes com a mesma facilidade com que o faziam antes".
Roures aprecia a moralização forçada pela crise. "Tudo isso vai mudar e acho que é muito positivo. Nunca concordei com clubes que pagam 140, 160 milhões de euros por um jogador de futebol. Será muito positivo para a sociedade em geral e para as finanças dos clubes em particular", afirmou. O catalão deu um exemplo apoiado na possibilidade de o Barcelona recomprar Neymar aos Paris Saint-Germain. "Agora é algo impossível. O Barcelona simplesmente não tem força económica para contrar o Neymar".
Alguns dos potentados televisivos, como a beIN e o Canal Plus, já estão parados. Em França interromperam a cobrança das subscrições desde a paragem dos campeonatos. No Reino Unido, a Sky Sports está a permitir aos clientes congelarem as respetivas assinaturas na esperança de que as retomem no futuro. Esta medida foi ditada pela necessidade de travar as assustadoras perdas de clientes.
Audiências vão subir
Há receios de que o público não consiga renovar os contratos que tinha por serem caros, mas Roures está confiante de que os adeptos estarão ainda mais ansiosos para voltar ao futebol assim que os bloqueios forem suspensos. "A crise não vai impedir as pessoas de verem futebol", afirmou.
Roures está otimista. "Talvez tenhamos de jogar à porta fechada, talvez bares e restaurantes fiquem fechados até não sei bem quando, mas acredito que as pessoas precisam de ver futebol o mais rápido possível. Pelo menos vão querer fazê-lo. Por enquanto, não vejo a necessidade de mudar alguma coisa".
A Bundesliga (Alemanha) está a liderar o processo de retorno do grande futebol o mais rapidamente possível. As equipas estão a treinar e pretendem voltar a jogar no próximo mês. A porta fechada, em estádios vazios, será uma inevitabilidade, tal como nas restantes ligas europeias. "Acho que isso [porta fechada] será obrigatório", disse Roures. "Mas se é para terminar as ligas com jogos à porta fechada, também não será necessário jogar aos sábados e aos domingos. "Geralmente joga-se aos fins-de-semana porque é quando as pessoas não trabalham e podem ir aos estádios, mas agora não é o caso. Assim, podemos adaptar os horários".
O catalão Jaume Roure até vê vantagens para o lado dele: "As audiências de televisão vão subir, essa parte vai melhorar, porque uma grande parte da população estará em casa. Mesmo no final de tudo isto, o futebol continuará a ser o desporto favorito das pessoas".