Um ano após o acidente de avião que fez 71 vítimas ainda se discutem as indemnizações e há uma associação composta por viúvas dos jogadores que até já se queixou a Romário.
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Coração devastado e desejo de justiça. Num misto de dor, força e esperança, as famílias das vítimas do acidente aéreo da Chapecoense, que amanhã completa um ano, uniram-se e criaram a AFAV-C (Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense). O voo que levava a comitiva do emblema brasileiro despenhou-se na Colômbia no dia 29 de novembro de 2016, quando a equipa se preparava para disputar a final da Taça Sul-Americana diante do Atlético Nacional.
As marcas são profundas e as famílias lutam pelos seus direitos. Já são quase três meses de projetos, recolha de documentos e, acima de tudo, busca por respostas.
Mara Paiva, viúva do ex-jogador e comentador Mário Sérgio, um dos 71 mortos na tragédia, encabeça o grupo que conta com mais de 60 membros e ainda hoje sofre para resolver a questão do seguro do avião, que, em contrato, previa o pagamento de 25 milhões de dólares - quase 21 milhões de euros. A seguradora oferece 14 milhões de dólares (pouco mais de 11, 5 milhões de euros), 167 mil euros para cada uma das vítimas, mas o acordo em princípio não agrada, visto que está condicionado ao veto de qualquer reclamação futura. "Nada foi pago ainda. Dizem que a apólice não era válida para o território colombiano. Como? O destino era a Colômbia. Dizem também que ela não estava paga, o que é mentira", contesta Mara, a O JOGO.
Mara Paiva, viúva do antigo jogador e comentador Mário Sérgio, é uma das líderes da AFAV-C, que foi formada há três meses e conta com a participação de mais de 60 membros ativos
Mas nem todos os esforços têm sido em vão. Com apoio da própria "Chape" e de outros parceiros, a AFAV-C está perto de conseguir que cada família tenha direito um benefício financeiro durante um período de cinco anos.
"O que me motiva a liderar o grupo é a necessidade de construir em cima desta terra arrasada. Agir é como elaboro o meu luto. Há famílias hoje que já não conseguem viver sem passar dificuldades, ir ao mercado, manter os miúdos na escola... Não consigo imaginar que o meu marido faleceu para que eu receba uma cesta básica ou uma ajuda de 600 reais [160 euros] por mês", destaca.
"A Chapecoense já se refez. Tem novo guarda-redes, novo avançado, novo treinador... Agora, o pai do meu filho, esse não volta mais. Não admito ver tantas histórias serem interrompidas desta forma e ficar sem fazer nada", completa.