Chapecoense, um ano depois: "Deus não me deixou aqui para ficar num canto"
Sobrevivente do desastre do avião da Chapecoense, que completa um ano na próxima quarta-feira, Alan Ruschel destaca a forma "surpreendente" como foi reconstruído o emblema brasileiro.
Corpo do artigo
Dia 29 de novembro, quarta-feira, o mundo chora um ano do acidente da Chapecoense. Alan Ruschel, um dos sobreviventes do desastre de avião, que tirou a vida a 71 pessoas, na Colômbia, abre o coração sem discutir o porquê da tragédia. A comitiva do emblema brasileiro ia disputar a primeira mão da final da Taça Sul-Americana, frente ao Atlético Nacional.
Temeu que pudesse perder o prazer de jogar futebol?
- O prazer de jogar à bola agora é redobrado. Quando saí do hospital, deixei claro que gostava de honrar as pessoas que nos haviam deixado e os seus familiares. Tenho trabalhado com o maior empenho de sempre desde o primeiro dia de recuperação para fazer tudo da melhor forma possível.
Está surpreendido com a recuperação tão rápida que a Chapecoense teve após o acidente?
- A reconstrução do clube foi impressionante, sem dúvida. Por tudo o que fizemos, por tudo o que batalhámos... Foi, de facto, impressionante. Jogadores, membros da equipa técnica, dirigentes e adeptos, todos fizeram com que a Chapecoense se reerguesse de forma fantástica. Atingimos os nossos objetivos e tivemos êxitos consideráveis nas competições. Fico muito contente em acompanhar de perto as pessoas que fazem de tudo pela reconstrução do clube e que ainda podem ajudar muito mais.
Como é lidar com a dor de perder amigos e, ao mesmo tempo, a felicidade de estar vivo?
- Nunca questiono as decisões de Deus e nunca discuto os motivos que levaram tudo isso a acontecer. O que faço é transformar o "porquê" em "para quê". Deus não me deixou aqui para ficar jogado num canto e viver depressivo por ter perdido companheiros, amigos e pessoas queridas. Deixou-me aqui para encarar a vida de frente e ser um exemplo para todos.
"Sou um exemplo de superação e de coisas boas"
Qual a sua reação quando se apercebeu da tragédia e viu que estava vivo?
-Ainda não consigo reagir muito bem a isso. É difícil. Só tenho de agradecer a Deus por tudo o que fez na minha vida, pelo milagre que me proporcionou. Na verdade, a minha reação diante de tudo o que aconteceu é de agradecimento.
Na primeira conferência pós-acidente, disse que Deus pegou em si ao colo e deu-lhe uma missão na Terra. Como é viver com tamanha responsabilidade?
-Hoje, tenho responsabilidades ainda maiores. Deus deixou-me na terra por algum motivo especial, por algum propósito divino. Por ele e por todos que nos deixaram, procuro sempre ser um bom exemplo. Quero mostrar que sou um homem que luta intensamente pela vida, e é isso que tenho feito todos os dias. Felizmente, acho que tenho conseguido êxito nessa busca. Tenho conseguido também ajudar diversas pessoas, principalmente com a minha perseverança e o meu trabalho duro. Tenho e sempre tive muita dedicação. Olho para mim hoje e fico muito feliz com o que vejo.