"Sérgio Conceição trouxe fibra ao Milan, tocou no amor próprio dos jogadores"
A O JOGO, Néstor Sensini nota que o português lhe parece bem mais tranquilo do que nos tempos de futebolista. O Milan está a oito pontos dos lugares de Champions e a 17 pontos do líder (com menos dois jogos). Para o ex-laziale, o primeiro objetivo é mais realista, mas a ambição do “scudetto” tem de estar presente.
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Sérgio Conceição fez apenas dois jogos pelo AC Milan e já ganhou um troféu. Por outro lado, ainda não perdeu a calma. Diz quem o conhece há muitos anos que o atual treinador do AC Milan está diferente... para melhor.
“Quando eu joguei com ele na Lázio, o Sérgio era muito resmungão. Era muito fácil de o fazer irritar-se, digamos assim. Hoje já o vejo um pouco mais tranquilo, mais sereno. Já está noutro papel, de treinador, mas vejo que cresceu como pessoa... e também como treinador”, afirma, a O JOGO, Néstor Sensini, antigo central que juntamente com Sérgio alcançou no plantel da Lázio a dobradinha em Itália, em 1999/2000.
“Ele diz que não é de abraços, mas também não é de ferro e por isso também festeja intensamente. É um treinador um pouco mais duro, que tem uma exigência contínua para com os jogadores. Mas no fundo também há por detrás uma pessoa e um ser humano. Não é um mole, digamos assim”, acrescentou Sensini, apontando que, graças a este feitio, o português transmitiu à equipa “a fibra” necessária para esta dar a volta à apatia que parecia instalada no grupo.
“Ao ganhar esta final frente à melhor equipa de Itália nos últimos dois anos, dando a volta de 2-0 para 3-2, percebe-se que o estímulo que ele deu à equipa foi muito importante. Trouxe-lhes fibra, tocou no amor próprio dos jogadores. Em poucos dias mudou-lhes a cara”, apontou, respondendo depois, quando convidado a analisar as possibilidades do AC Milan ainda chegar ao título, que esse é o objetivo que está mais de acordo com o ADN do clube: “É muito cedo para dizer onde pode ir esta equipa, mas num clube como o Milan tens de pensar em lutar pelo máximo. Se bem que tem à frente outros emblemas com muitos pontos de vantagem e não vai ser fácil chegar ao título. Para um clube como o Milan o campeonato é o mais importante de tudo, mas neste caso a Champions será o objetivo deles. Nápoles, Atalanta, Inter, Juventus têm o mesmo objetivo. Não vai ser fácil, mas na minha opinião o Milan tem de ir pelo objetivo máximo.”
Para já, no bolso está a Supertaça, troféu disputado na Arábia Saudita que contou com preciosa ajuda de Rafael Leão, compatriota que recuperou de lesão em cima do jogo e que entrou nos últimos minutos para ser decisivo para a reviravolta. À chegada a Itália, Leão reconheceu a importância do papel do treinador nesta conquista. “Se estava à espera de tudo isto quando ele chegou, no dia 29 de dezembro? Talvez não, mas ele trouxe logo outra aura. Sentimos uma mudança”, disse Leão, numa opinião bem positiva, o que, genericamente, foi transmitido por diversas outras personalidades na imprensa italiana.
Como o escritor italiano Luca Serafini, que destacou o “ótimo trabalho mental” desenvolvido pelo técnico. “Ele nasceu sob uma estrela da sorte. Em cinco dias não se pode fazer muito, mas há alguns botões que podem ser premidos”, disse, expressando que será “necessária a tão famosa continuidade”.
Também impressionado com o impacto imediato de Conceição no grupo ficou o jornalista Luca Marchetti, da Sky News, considerando que, neste caso, a explicação pode ter uma origem... química. “Conseguiu entrar em sintonia imediata com o balneário e isso é uma questão de química. Depois é preciso lembrar que a fome vem com a comida e a vitória contra a Juventus ajudou a essa fome. Os resultados ajudam. Com o Paulo Fonseca, dada a forma como se tornaram as relações com o balneário, esta reação do grupo provavelmente não teria acontecido.” Já Alfredo Pedullà, da Sportitalia, especificou que “o Milan encontrou um treinador que caiu bem no grupo e um grupo que caiu bem no treinador”.
A quem caiu melhor o triunfo foi a Fernando Gomes, presidente da FPF, que transmitiu os parabéns aos dois lusos envolvidos. “É com muita alegria que felicito o Rafael Leão e o Sérgio Conceição pela conquista da Supertaça de Itália”, subscreveu o líder da FPF.
Além de um troféu, Sérgio Conceição também já bate recordes no AC Milan: como o de treinador que menos jogos precisou para vencer um troféu, que era de Vincenzo Montella: foi ao 18.º jogo que este conquistou a Supertaça de Itália em 2016. Por outro lado, desde 2004 que os rossoneri não venciam um dérbi depois de terem estado a perder por dois golos de diferença.