Sérgio Conceição: "Matriculei-me na universidade aos 51 anos, estou a fazer um mestrado"

Sérgio Conceição
Al Ittihad
Sérgio Conceição, treinador português que agora comanda os sauditas do Al Ittihad, deu uma entrevista ao jornal italiano La Gazzetta dello Sport, que foi publicada esta segunda-feira
Um homem com muita fé: "A fé é uma parte fundamental da minha vida. Sou católico praticante. Aqui não posso, mas em Milão ia à igreja todos os dias. Há alguns meses, o Papa convidou-me para o Jubileu para falar sobre a minha jornada e as minhas dificuldades. De onde vem a minha fé? Perdi o meu pai aos 16 anos num acidente de moto, a minha mãe aos 18 após uma longa doença e, depois, um irmão. Eu era o sétimo de oito filhos. A fé deu-me força e paz de espírito. Quero mostrar aos meus pais que estou aqui e que realizei todos os meus sonhos. Mas, no fundo, escondido, tenho e sempre terei algo "sombrio", como uma sombra."
Por causa da perda dos seus pais? "Sim. Tenho fotografias deles comigo e rezo por eles todos os dias. Sou um homem tranquilo, tenho cinco filhos, joguei e agora sou treinador, mas sei que nunca serei completamente feliz sem os meus pais. É um vazio dentro de mim."
Os seus filhos preenchem um pouco esse vazio... "Claro. O Francisco agora está na Juventus e está a ir bem."
Fala sobre futebol em casa? "O mínimo possível. O importante é que eles deixem os telemóveis no bolso durante o jantar. Exigi o mesmo no FC Porto e no Milan. O Francisco estreou-se comigo em Portugal. Em 2020, durante o confinamento, disse-lhe: 'Se tens fome... então bebe água'. Ele estava um pouco gordinho. Para fazer a diferença, é preciso sacrifício e mentalidade. Se pudesse, emprestava-lhe a minha fome. Não que ele não a tenha, pelo contrário, mas quando eu tinha 16 anos, trazia dinheiro para casa para comer, era diferente. Mas sempre acreditei nele. E ele também acredita em si mesmo."
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Quantos clubes procuraram os seus serviços? "Estive em contacto com a Lázio, mas não só com eles. Mesmo antes de assinar com o Al Ittihad, tive outras ofertas. A liga aqui é competitiva, as ambições são altas e os treinos acontecem à tarde, em vez de pela manhã. É preciso adaptar-se à dinâmica cultural. Mas isso é um desafio, e eu adoro desafios como esse."
Qual é frase que melhor o representa? "'Não se consegue grandes coisas em águas calmas; é preciso uma tempestade.' Mihajlovic, falando sobre Benassi, disse que a dificuldade não era ser capitão, mas acordar às quatro da manhã e trabalhar. Os meus pais ensinaram-me isso. E não se deve contentar com menos. Matriculei-me na universidade aos 51 anos. Estou a fazer um mestrado em treino desportivo."

