"Havia instabilidade no Milan, o ambiente em torno da equipa não era bom, e a Direção não me apoiava"

Sérgio Conceição no Milan
Sérgio Conceição, treinador português que agora comanda os sauditas do Al Ittihad, deu uma entrevista ao jornal italiano La Gazzetta dello Sport, que foi publicada esta segunda-feira
Chegou ao Milan no fnal de dezembro e ganhou logo um título, a Supertaça de Itália, em janeiro: "Sim, sem dúvida. Lembro-me dos dias de trabalho intenso a analisar vídeos, a motivar os jogadores e a conversar com eles para entrar nas cabeças deles. Vencemos a Juventus do meu filho Francisco e depois o Inter numa reviravolta. E chorei."
Celebrou esse troféu com um charuto: "Foi uma promessa. Os jogadores, que tinham visto os vídeos [tinha festejado assim no FC Porto], pediram-me para o fumar se ganhássemos. Eu tinha feito isso 11 vezes com o FC Porto, depois de ganhar troféus. O treinador que mais ganhou. Então, fiz isso novamente."
A quem oferecia um charuto no jogo de hoje (Nápoles e Bolonha disputam a final da Supertaça)? "Não tenho favoritos e também não quero falar sobre jogadores, porque depois escrevem que estamos interessados neles. Vou assistir ao jogo; o Bolonha e o Nápoles são ótimos de se ver. O confronto entre Conte e Italiano é uma ótima publicidade para o futebol. Antonio é obcecado, como eu, e, na verdade, a obsessão supera o talento. Vincenzo, por outro lado, joga um futebol bonito, tanto que no ano passado perdemos a final da Taça de Itália para ele. Um grande arrependimento."
Leia também Benfica pretende blindar José Neto: renovação está em cima da mesa
Como resumiria os seus seis meses no Milan? "Positivamente. De 2016 até hoje, apenas dois treinadores conquistaram troféus com o Milan: Pioli, com o campeonato, e eu. Se somarmos os pontos da nossa gestão, tivemos um ritmo de Liga Europa, terminando em quinto lugar. Os resultados estão aí: estou a pensar nos dois dérbis que vencemos e na vitória contra a Roma. Estou desapontado com a final da Taça de Itália, mas houve algumas coisas de que não gostei. Que tipo de coisas? Havia instabilidade a nível do clube e o ambiente em torno da equipa não era bom. É por isso que valorizo o que fizemos. Além disso, a Direção não me apoiava. Vou dar um exemplo: depois de ganhar a Supertaça, jogámos contra o Cagliari. Naquela altura, já havia rumores de que o clube estava à procura de outros treinadores. Eu estava concentrado em trabalhar e ganhar, com o peso dos resultados sobre os meus ombros. Não tinha tempo para trabalhar em todos os níveis."
Teria ficado no Milan? "Sim, mas com algumas mudanças."
Os jogadores traíram-no? "Nunca, pelo contrário, eles estavam do meu lado. O Theo também disse isso na entrevista que vos deu: depois do Feyenoord, quando as pessoas disseram que ele tinha sido expulso de propósito, eu defendi-o. Muitos escreveram-me quando saí. Exijo rigor, empenho e, depois, descontração quando é hora de relaxar. Se alguém aparece um quilo mais pesado, chega atrasado ou algo semelhante, não consigo tolerar. Para mim, no final, todos os jogadores são iguais."
Qual a sua maior satisfação em Itália? E a maior deceção? "Como jogador de futebol, o Scudetto de 2000 com a Lázio, o mais incrível de todos os tempos. Sinisa, Stankovic e eu ouvíamos rádio no vestiário. Era um grupo de personalidades, cheio de pequenas brigas todos os dias, mas Eriksson sabia como nos controlar. Também me lembro da Supertaça Europeia de 1999 com o United: Ferguson disse que o seu maior arrependimento foi aquela derrota. Maior deceção foi o título da liga perdido com o Inter a 5 de maio de 2002. Consolo Ronaldo em lágrimas no banco, eu estava ao lado dele. Ninguém conseguia acreditar. Tive dificuldades em Milão: Cuper não confiava em mim, mas era um grupo de campeões."
Voltaria a Itália? "Claro, sei que voltarei."

