Alérgico à etiqueta de "Lourenço de Toulon", o ex-avançado desmistifica rótulos, fez-se ao treino na Arábia Saudita. De quarentena feita, o ex-leão fala a O JOGO de tudo: do que faz, fez e deixou por fazer.
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Luís Lourenço prometeu no Sporting. Fez a sua carreira, como gosta de dizer, e agora os seus sonhos vivem no banco.
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É treinador de formação no Al-Wehda. Uma ambição que tinha ou um desafio que surgiu?
-Começou com um convite do Andrade, que se formou no Sporting e hoje treina o futebol feminino do Benfica. Ele era coordenador do Tenente Valdez. Resisti, mas aceitei. Isto em 2015. Tinha de começar por algum lado. Ainda jogava no Pinhalnovense e estava no curso do treinador de I Nível. Pedia ao míster para não chumbar por faltas [risos]. Está a ser bom. Treinar miúdos não é fácil. Ensino as bases e não digo asneiras. Isto é, digo sem ser ofensivo.
Não tardou a tentar a sorte lá fora. Vale a pena treinar formação na Arábia Saudita?
-Sem dúvida. Aqui o treinador português é credenciado. A nossa marca de água é primeiro a evolução do jogador e depois o resultado. É visível nos trabalhos de Jorge Jesus, Rui Vitória, Vítor Pereira, Jorge Simão, Paulo Sérgio, José Garrido, entre outros. Tem sido gratificante, mas desafiante. Pelo ambiente, pela dificuldade dos miúdos em falar inglês. Mas estou feliz.
Entretanto, veio a pandemia...
-Complicado... Assustei-me pela minha mulher e filhos. Na Arábia Saudita o vírus entrou mais devagar. Hoje há mais casos do que Portugal, mas menos mortos. Estão muito melhor apetrechados em material hospitalar. Nisto, o governo fechou tudo e foi ultra-rigoroso no confinamento. Nem no hall do prédio podíamos andar. Depois o Al-Wehda suspendeu atividade e eu lá consegui um voo de regresso. Acabei a quarentena de 15 dias e espero ordem para voltar.
"Não sou o Lourenço de Toulon. Agora sou o Lourenço das Arábias"
Tem a fama de eterno jovem e participante no Torneio de Toulon. Isso afeta-o?
-[Seco] Não! As pessoas brincam, mas esquecem-se que o problema era eu não ir a Toulon. Só fui duas vezes e ganhámos. Na primeira, tinha 16 anos e criou-se essa ideia. Podia ter ido mais duas vezes e nessas perdemos. Orgulho-me da minha carreira. Podia ter feito mais? Tomei decisões precipitadas? Claro, mas não sou o Lourenço de Toulon. Agora sou o Lourenço das Arábias [risos].
Qual a sua maior ambição como técnico?
-Chegar à I Liga. Levo cinco anos de treino, gostava de subir sem pressas e seguir as pisadas de Custódio e Rúben Amorim, dois amigos dos quais fui colega. O exemplo deles mostra que é a qualidade e não o tempo que dão a oportunidade. Em parte, também sucedeu com Bruno Lage. Passo a passo, ambiciono fazer como eles e sem pisar em ninguém.
Disse que podia ter feito mais como jogador. O quê?
-Chegar à Seleção A. Fui internacional em todas as categorias jovens, estive nas seleções B, olímpica... Mas joguei no Sporting, fiz o primeiro golo no atual estádio nas provas europeias e assisti o João Vieira Pinto no 3-1 ao Man. United no jogo da inauguração. Aquela época que fiz inteira [2003/04] com Fernando Santos foi boa, mas perdemos o Quaresma e o Ronaldo no verão, antes de começar a época. Se esses dois têm ficado connosco a jogar em 4x3x3...