Ninguém faz frente ao poderoso Sheriff: 19 títulos em 25 anos e uma história obscura
Clube de Tiraspol foi 19 vezes campeão da Moldávia em apenas 25 anos de história. O dono, Viktor Gusan, tem um registo criminal obscuro. Sheriff é um aglomerado de empresas sem rivalidade na Transnístria e empresta o nome ao clube, que tem um complexo desportivo com condições ímpares. Mas a origem do dinheiro é duvidosa...
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Sem lupa, a história do Sheriff é um conto de fadas. Fundado em 1997, em 25 anos de competição , o clube sediado em Tiraspol, na Transnístria, uma região na fronteira com a Ucrânia que se autoproclamou independente em 1990 mas que não é reconhecida pelas Nações Unidas, conseguiu 19 títulos de campeão da Moldávia (os últimos seis de forma consecutiva) e esta época espantou a Europa ao entrar pela primeira vez na fase de grupos da Liga dos Campeões, tendo conseguido a proeza de vencer o Real Madrid na capital espanhola.
Mas, visto de perto, o clube está ligado a uma história obscura devido ao seu fundador, Viktor Gusan, um ex-agente do KGB que transformou o FC Tiras Tiraspol, criado em 1996, no emblema atual.
Dono da empresa Sheriff, fundada em 1990 e que detém gasolineiras, supermercados, um canal de televisão, uma operadora de comunicações, uma editora, empresas de construção civil, têxteis, padarias e exportação de caviar, entre outras atividades comerciais, e que deu o nome ao clube, Gusan aproveitou a queda do regime soviético para se impor como pessoa mais influente da Transnístria, com controlo sobre questões políticas e económicas, embora com um registo criminal relevante, ligado ao contrabando de armas e cigarros.
Ora, o Sheriff passou num ápice de um clube modesto a um emblema com condições de luxo, à custa do dinheiro de origem duvidosa de Gusan. A região da Transnístria, que é do tamanho de Trás-os-Montes e tem menos de meio milhão de habitantes, é pró-russa e tem moeda e parlamento próprios, hino, polícia e um posto fronteiriço à entrada de Tiraspol, no qual é expressamente proibido tirar fotografias. Recentemente, dois japonenses pisaram o risco e acabaram na prisão.
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Apesar de a região da Transnístria torcer o nariz à Moldávia, é no campeonato desse país que joga o Sheriff. Desportivamente, o clube é um colosso, com um centro de treinos de alto nível, composto por uma dúzia de relvados, três estádios (um coberto para o inverno, outro para competições domésticas e o terceiro para as provas europeias, com 12 mil lugares), um hotel de cinco estrelas e casas para os jogadores. Mordomias que contrastam com a pobreza da região, parada no tempo, permanentemente vigiada por tropas russas e com uma economia, curiosamente, capitalista devido ao tal império do dono do clube.
Na Transnístria fala-se mais russo do que romeno, que é a língua oficial da Moldávia, e a região apenas é reconhecida pela Ossétia do Sul, República Artsaque e Abecásia, todas elas também separatistas e com ligações ao império de Vladimir Putin.