Burgos era uma espécie de homem das cavernas para quem tudo era combate ou divertimento.
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Germán Burgos, "El Mono" (O Macaco), assim batizado pelos adeptos do River Plate por alegadamente se parecer com um macaco, pela postura desalinhada numa envergadura assustadora, não que um metro e oitenta e oito centímetros de altura seja algo de extraordinário, mas por compor uma figura saída de um filme sobre a pré-história. Burgos era uma espécie de homem das cavernas para quem tudo era combate ou divertimento.
Num Real Madrid-Atlético, Figo estava pouco confiante na linha dos 11 metros e bateu um penálti em força; Mono tentou adivinhar o lado e voou para o sítio certo, mas não chegou com as mãos à bola, levou com ela na cara e o nariz explodiu.
Mono Burgos foi um dos últimos guarda-redes genuinamente malucos do futebol mundial. Defendeu penáltis até lhe chamarem especialista, sofreu um golo de livre direto ao tentar parar a bola com o peito, em vez de uma fita para segurar o longo cabelo usava um gorro. A excenticidade misturava-se com uma coragem sem par.
Num Real Madrid-Atlético, Figo estava pouco confiante na linha dos 11 metros e bateu um penálti em força; Mono tentou adivinhar o lado e voou para o sítio certo, mas não chegou com as mãos à bola, levou com ela na cara e o nariz explodiu. Encheu-o de algodão e continuou em campo, porque gostava de jogar. Gostava tanto que em 2003, num dia que deveria ter sido igual a tantos outros, comunicaram-lhe a necessidade de ser operado rapidamente por padecer de cancro num rim. "Doutor, tenho jogo no fim de semana, é melhor deixar isso para segunda feia", foi a reação, contada pelo próprio anos mais tarde, mas grato ao médico por não lhe ter dado ouvidos.
Músico de rock, começou por fazer parte de uma banda de "covers" mas o processo evoluiu até à edição de quatro álbuns de produção própria. O projeto chegou a ser tão sério na cabeça dele, compositor e vocalista, que admitiu deixar o Maiorca para se dedicar à música. Os ares do mar fizeram-lhe bem, pois os anos em que mais se destacou estavam para chegar no Atlético de Madrid.
Depois de pequenas aventuras a solo, Mono Burgos voltou ao Atleti como adjunto de Simeone. Uma espécie de ajudante e guarda-costas, porque não era exatamente o homem das táticas
Depois de pequenas aventuras a solo, Mono Burgos voltou ao Atleti como adjunto de Simeone. Uma espécie de ajudante e guarda-costas, porque não era exatamente o homem das táticas, mas o da raça. Desempenha esse papel há oito anos e meio e a não continuidade é o segredo de que todos falam à boca cheia. A Imprensa espanhola afiança que está a perder peso, o que no caso dele só pode ser ironia. Influência, sim, estará a cedê-la a Nelson Vivas, esse sim o apoio tático de Simeone desde o início da carreira mas que ao tempo não conseguiu acompanhá-lo quando trocou a Argentina pela Europa. Já está no Atleti, analisa adversários e dá conselhos até ser declarado número dois.
Burgos, que será o adjunto mais bem pago de LaLiga, vai agora caminhar pelo próprio pé, levando com ele a máxima até agora apregoada com coração colchonero. Aos novos João Félix, Herrera e Felipe, fez saber e publicou-o no Instagram: "A primeira mensagem que deve ficar gravado nessas mentes, e na de todos em geral é esta frase: "Prefiro morrer com uma flecha no peito do que no rabo". É preciso dar a vida pelo companheiro e levá-lo ao sucesso".