Jorge Jesus e a etapa no Flamengo: "Sinto-me o Pedro Álvares Cabral do futebol português no Brasil"
Declarações de Jorge Jesus em entrevista ao Globoesporte
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Em entrevista ao Globoesporte, Jorge Jesus, atual treinador do Al Hilal, recordou com saudade a sua passagem pelo Flamengo, fazendo uma comparação curiosa.
"Nós, no português, temos a palavra saudade, e eu tenho saudade do tempo em que estive no Flamengo. Não só do clube em si, mas também da cidade. Apesar de estar bem em Riade, que é uma cidade fabulosa, o Flamengo foi um clube, a equipa em si, os jogadores em si... foram os que me acolheram e batizaram como se fosse um treinador diferenciado para eles. Acreditaram muito em mim e preocuparam-se muito comigo até no que eu fazia fora do Flamengo. Não sei se mais alguma vez terei um grupo como esse. Guardo num lugar no meu coração por tudo o que envolveu jogadores e adeptos. Você é testemunha... Às vezes, coloco os meus vídeos para recordar 70 mil pessoas a gritar 'Olé, olé, Mister...'. Isso eu não tive e em hipótese alguma vou ter, nem no meu país. Estive no Benfica, ganhei tudo que havia para ganhar e nunca tive um jogo, um jogo que os adeptos gritassem por mim. Nenhum! Então, tenho que ter saudades do Brasil. O futebol para mim é uma paixão que muitas vezes ponho à frente da minha família. Um dia eu quero voltar. Agora, não sei, né? Não sei quando. Neste momento, estou muito bem aqui no Al Hilal, tenho um presidente que me adora... Todos os dias, eu acordo com uma vontade enorme de trabalhar. Quando eu não treino, dou folga, são os piores dias", referi.
"Só me falta ser o melhor treinador na Europa, que ainda não fui, mas já fui em vários continentes. Isso se dá também por ter escolhido bons clubes, como o Flamengo na América Latina e ganhamos quase tudo. Aqui na Arábia, a mesma coisa, e eu todos os dias acordo com saúde e muito motivado para trabalhar com os meus jogadores e ganhar cada vez mais títulos. No fundo, são os títulos que dão essa valorização e nos diferenciam dos outros", afirmou, falando ainda do seu impacto no crescimento do futebol brasileiro e o legado que deixou: "A minha passagem obrigou o futebol brasileiro e o próprio treinador a olhar o jogo de outra maneira. Quando chegamos, o futebol era muito de posição, de pouca pressão. Hoje, não, eles já sabem o que é fazer pressão alta. Esse foi um dos componentes do jogo que fizeram mudar o futebol brasileiro, porque a qualidade que o jogador tem continua, o talento continua todo lá, mas no futebol só o talento não ganha jogos hoje em dia. O talento com a qualidade do trabalho é o que ganha títulos e jogos. Hoje, as grandes equipas do Brasil estão a ir por essa mudança, como na Europa. E, sim, sinto que deixamos um legado para que os outros treinadores portugueses, como Abel Ferreira e Artur Jorge, tivessem a continuidade dessa ideia de jogo. Isso fez com que três treinadores portugueses no espaço de cinco anos ganhassem. Eu sinto-me como o Pedro Álvares Cabral do futebol português no Brasil, onde foi confirmado e justificado. O treinador português é o melhor treinador do mundo. Não estou a dizer que são todos iguais. Três, quatro treinadores portugueses, são os melhores do mundo."
E comparou o seu Flamengo com o atual Al Hilal: "Eu tenho uma ideia de time e de jogo que passa sempre pelo coletivo, independentemente de ter as referências individuais como no Al Hilal e também era no Flamengo. Com a nossa chegada, o Hilal ganhou tudo o que tinha para ganhar no país, parecido com o que aconteceu no Flamengo. Já vencemos quatro títulos e temos só duas derrotas. No Flamengo, tivemos cinco títulos e quatro derrotas. Comparo um pouco com o Flamengo. O Al Hilal é um clube que na Arábia Saudita é como se fosse o Flamengo em termos de adeptos, troféus, dimensão para o país e para fora. Neste momento, o Hilal é a melhor equipa do Oriente Médio, não há dúvidas, mas para confirmar isso temos que carimbar a Champions da Ásia. "