Jornal do governo da Etiópia diz que prata de maratonista que protestou foi 'desanimadora'
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O governo da Etiópia não apreciou os protestos feitos pelo corredor Feyisa Lilesa, tanto ao cruzar a meta da maratona do Rio'2016 quanto no pódio, quando recebeu a medalha de prata e repetiu o gesto, cruzando os braços bem alto.
Nesta terça-feira, o The Ethiopian Herald, jornal estatal do país africano, escreveu um artigo criticando o desempenho do seu atleta, que só ficou atrás do "invencível" queniano Eliud Kipchoge.
"No último dia do Ri'2016, Feyisa Lelisa conseguiu terminar no 2º lugar na maratona, perto do queniano Eliud Kipchoge, com o tempo de 2h8min44s. O etíope chegou a 70 segundos depois e ficou com a prata, enquanto o norte-americano Galen Rupp teminou com o bronze. [...] O resultado é bom, mas, para os fãs de atletismo etíopes que esperavam o ouro, foi desanimador".
No mesmo artigo, o Governo etíope também mostrou insatisfação geral com o desempenho dos seus atletas no Rio, principalmente pelo facto de a nação ter terminado atrás do Quénia, vizinho e principal rival no quadro de medalhas.
"A Etiópia ganhou uma medalha de ouro, duas de pratas e cinco de bronzes. O resultado deixou o país no 3º lugar na África, atrás do Quénia e da África do Sul. Há quatro anos, a Etiópia ficou em 2º lugar, atrás da África do Sul e deixando o vizinho Quénia em 3º".
Feyisa Lilesa, recorde-se, foi medalhista de prata na maratona masculina, mas o que realmente chamou à atenção foi a sua chegada. Após cruzar a linha de chegada, cruzou os braços em "X", fazendo um sinal - que seria repetido mais tarde, na cerimónia das medalhas.
"O Governo da Etiópia está a matar as pessoas de Oromo e a roubar as suas terras e os seus pertences. Então, o povo de Oromo está a protestar e eu apoio o protesto por ser Oromo. O governo está a matar o meu povo, então apoio os protestos de qualquer área porque Oromo é a minha tribo. Os meus parentes estão na prisão e serão mortos se falarem sobre os seus direitos democráticos. Ergui as minhas mãos para apoiar o protesto."
De acordo com a organização não-governamental Human Rights Watch, desde novembro de 2015 o governo da Etiópia assassinou cerca de 400 pessoas e feriu milhares por participarem de protestos na região de Oromo.