"Guardiola está sempre um passo à frente, ou nos reinventamos ou morremos"
Rodri, médio do Manchester City e da seleção espanhola, escreveu uma carta aberta, publicada no portal The Players' Tribune, em que falou da infância, do começo no futebol e das maiores conquistas
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Moldado por Diego Simeone no Atlético de Madrid: "Quando regressei ao Atlético durante uma época, aprendi o que significa realmente competitividade. Quando estava no Villarreal, era muito bom com a bola nos pés, mas ainda era um pouco mole. Com Diego Simeone, aprendi o que significa ser o mau da fita. A ser um pouco sacana em campo. A atacar a sério. Fazer a outra equipa passar mal durante 90 minutos. Essa foi outra parte importante."
Ensinamentos de Pep Guardiola, no Manchester City: "Quando tive a oportunidade de me mudar para o City no verão seguinte, era um sonho para mim. Antes de aceitar a transferência, falei com Sergio Busquets, que me disse: 'Pep? Ele vai fazer de ti um jogador melhor. Mas nunca, nunca, nunca vai parar de te pressionar. Tu nunca serás um produto acabado'. O Sergio teve o mesmo papel com o Pep e conseguiu tantas coisas boas, por isso confiei muito nas suas palavras. E ele tinha toda a razão. Para mim, o que é único no Pep é o facto de estar sempre um passo à frente. Está sempre a evoluir antes que o jogo à sua volta possa evoluir. Nunca se contenta em manter as coisas exatamente como jogámos na época passada, porque a concorrência vai estar sempre a analisar a época passada. Não se ganham quatro títulos da Premier League seguidos ficando parados. Ou nos reinventamos ou morremos. Sabem, quando faço referência ao Pep, tenho sempre de falar com as mãos. Tenho de encontrar uma mesa, um tabuleiro ou algo do género e começar a mover as chávenas de café como se fosse um tabuleiro de xadrez, como ele faz. 'Ele vai para aqui, depois vai para ali, e depois bang - tu mexes-te aqui. Para o espaço. Pimba.' Para mim, ele acrescentou a última peça mental do puzzle. “Ver” o jogo de uma forma diferente. “Senti-lo” - quando avançar para o espaço, quando se conter. Quando pressionar, quando relaxar. A confiança dele foi muito importante para mim, porque é preciso lembrar que, quando cheguei aqui em 2019, estava a entrar num balneário com Fernandinho, Agüero, David Silva, Kevin De Bruyne. Lendas. Quando tinha 12 anos, costumava ir ver o Agüero no campo de treinos quando ele estava no Atlético. Era um dos meus heróis. Agora estou sentado ao lado dele no balneário? Foi fantástico."
As chamadas com a companheiro no autocarro do Manchester City: "O Aguero e o Otamendi estavam sempre a gozar comigo, não só por causa das minhas roupas, mas também porque eu costumava entrar no autocarro depois de cada jogo e fazer FaceTime com a minha mulher. Como eu sou jogador de futebol e ela é médica, tivemos de nos habituar a estar à distância durante muitos anos. O que é que se faz quando se está à distância? Faz-se FaceTime. Telefonava-lhe depois de cada jogo, ganhasse ou perdesse. Quando ganhávamos, não havia problema, porque os rapazes estavam a festejar e não se apercebiam. Mas quando perdíamos, eu continuava a ser o meu eu normal. Não tinha qualquer filtro. Quando falo com a minha mulher, é como se o meu cérebro voltasse ao tempo da universidade. Volto a ser o Rodrigo. O autocarro estava num silêncio total, toda a gente de cabeça baixa, deprimida, e eu falava alto, dizendo: 'Sim, hoje estivemos um bocado mal, para ser sincero. Sim, sim, empatámos. Sim, estou lixado.... Enfim, como foi o teu dia?' Da primeira vez, Aguero e Otamendi puxaram-me para o lado e disseram: 'Meu, não podes falar assim no autocarro! O Pep ouve-te! Toda a gente te ouve!' Mas depois de cada jogo, eu telefonava-lhe. Sem filtros. 'Sim, hoje foi bom. Ganhámos, mas eu joguei um bocado mal. Estás a ver Netflix? O que estás a comer?' Hahahah. Éramos como dois adolescentes. Toda a gente estava tão irritada. Tentavam tirar-me o telemóvel: 'Ele depois liga-te! Rodri, desliga o telefone! Ele tem de se ir embora agora! Adeus'."