"Euro'2004? Talvez o futebol nos tenha tirado algo e devolveu anos mais tarde"
Declarações de Figo, antigo internacional português, ao "The Guardian".
Corpo do artigo
Perder a final do Euro'2004 foi o momento mais dolorosa da sua carreira? "Não. Experienciámos algo inimaginável e que nunca voltará a ser repetido. Nunca senti um apoio tão consensual e uma alegria tão grande em torno da Seleção Nacional. Quando fiz os meus primeiros jogos por Portugal, jogávamos para não perder. Passámos disso a ir para torneios como favoritos e, apesar de não termos ganhado títulos, ganhámos notoriedade, respeito, estatuto, o que ajudou as gerações seguintes. Talvez o futebol nos tenha tirado algo e devolveu anos mais tarde. Toda a gente esperava que nós fossemos campeões e depois, em 2016, contra a França em solo francês, vencemos sem o nosso melhor jogador."
Transferência do Barcelona para o Real Madrid: "Eu estava muito calmo quanto à minha posição, mas ao mesmo tempo sabia que tinha o dever de tratar das pessoas que estavam a trabalhar comigo [Paulo Futre e José Veiga]. Eu assumo a responsabilidade pela decisão, pelas minhas ações. A decisão de tirá-los daquela responsabilidade foi só minha. Um ano depois, parei de trabalhar com o meu agente [Veiga]. Por causa de algumas situações, eu disse-lhe: 'Ok, eu assumo a responsabilidade outra vez. A partir de agora, tens a tua vida e eu tenho a minha. Eu tinha tudo no Barcelona, mas também pensas: 'Não é como se eu estivesse a ir para um clube de segunda linha'. Se não tivesse sido o Real Madrid, talvez eu não tivesse ido. Era uma desafio, uma decisão baseada no querer sentir-se valorizado, queria que me convencessem que eu seria uma peça extremamente importante. Podia ter sido uma cagada, uma asneira, mas não foi."
15256171
Como seria se isso tivesse acontecido nos dias de hoje? "Hoje em dia, existe mais proteção. Na altura, parecia que fazia uma conferência de imprensa todos os dias. Isso pesa. Fomos em tour e surgiu uma nova ideia na rivalidade [entre Barça e Real Madrid], pressão, preço e ódio também. Nem toda a gente gosta de Deus, como é que toda a gente vai gostar de mim? A minha única preocupação era que algo físico acontecesse, por causa de algum maluco. Mas jogar futebol? Não, no futebol não existem motivos para ter medo."
15256844