Antigo elemento da formação de Vitória de Guimarães e de Sporting trabalhou ao serviço do Hubei Chufeng Heli, clube do terceiro escalão da China
Corpo do artigo
O preparador físico Luís Estanislau, de 28 anos, afirmou que os métodos de treino a que estava habituado no Hubei Chufeng Heli, clube do terceiro escalão da China, tiveram de ser forçosamente alterados em 2020, devido ao surgimento da pandemia de covid-19.
O técnico regressou, no final de julho, a Wuhan, cidade em que já estivera confinado em janeiro, antes do repatriamento para Portugal, e, depois de nova quarentena, começou a preparar uma época que decorreu entre setembro e novembro, num centro de estágio em Kunming, no sul da China, com "polícia e segurança" em redor, com jogos de três em três dias.
"Foi uma época muito mais intensa. Houve pouco tempo para preparar taticamente os jogadores e foi muito exigente fisicamente. E [foi] muito exigente também mentalmente e psicologicamente, porque tínhamos de estar confinados a um espaço e não podíamos fazer a nossa vida normal", salienta.
Num cenário em que as 21 equipas em prova, repartidas por duas séries, tinham de jogar à quarta-feira e ao fim de semana de forma ininterrupta, os treinos foram planeados para garantirem a "recuperação" dos atletas, recorda o técnico.
"A recuperação foi o foco principal, desde banhos de gelo, desde massagens. Depois, também [houve] a exigência de mudar mais vezes de jogadores. Ou seja, o "onze' inicial mudava 50% de jogo para jogo, para que conseguíssemos chegar ao final da época com jogadores frescos", esclarece.
As rotinas de Luís Estanislau começaram, porém, a mudar antes, quando ainda se encontrava em Guimarães, a sua "cidade berço', e orientava os jogadores à distância, sabendo que alguns deles não tinham as melhores condições para treinar dessa forma.
"Quando estava em Portugal, uma coisa que mudou bastante foram os treinos "online'. Diariamente tínhamos de alterar os treinos, porque alguns jogadores não tinham algum tipo de materiais ou determinado espaço para fazerem determinados exercícios. Tive de repensar e de mudar muito os planos de treino, para que os jogadores não fossem abaixo fisicamente", lembra.
Depois de ter visto o regresso a Portugal como positivo, por "voltar a casa" e "estar com a família", o preparador físico confessa que se começou a sentir "aborrecido" passado algum tempo, face ao confinamento vigente no território nacional, e diz ter sentido falta de ir ao ginásio, algo que o fez comprar algumas máquinas para uso doméstico.
"O ginásio faz parte do meu quotidiano. Faz parte do meu dia-a-dia já há muitos anos e não abdico. Mas aí, em Portugal, tive até de comprar várias máquinas de ginásio a um ginásio que fechou. E eu vi aí uma oportunidade de adquirir várias máquinas. Comprei as máquinas e coloquei-as em casa. Em vez de eu ir ao ginásio, veio o ginásio até mim", conta.
Após mais de cinco meses em Guimarães, o treinador esteve em quarentena por duas semanas após o regresso à China e concentrou-se no campeonato nos três meses seguintes, limitando-se a uma vida repartida entre a casa e o trabalho, mas reatou uma "vida social" normal durante o mês de dezembro, indo, por exemplo, a restaurantes e a bares e até viajando no interior do país.
"Quando regressei a Wuhan [após o campeonato], foi uma vida normal. Fazia a minha rotina normalíssima. Tirei uns dias de férias. Viajei até ao sul da China, para uma ilha fantástica, nuns dias de calor em pleno dezembro. Foi bom. Aqui na China não se sente muito o vírus", descreve.
Após duas épocas no Hubei Chufeng Heli, o preparador físico, que já passou pelos escalões de formação de Vitória de Guimarães e de Sporting, terminou o contrato com o clube de Wuhan e diz ter recebido "vários convites" de outros emblemas para prosseguir a carreira em território chinês.