ENTREVISTA (parte 4) - Renovação, a palavra que mais tem incomodado Fernando Santos. E dá como exemplo a vitória dos jovens talentos do Dragão na UEFA Youth League.
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Demagogia: uma palavra que Fernando Santos conhece, no âmbito da Seleção, pelo sinónimo renovação. O selecionador desmonta algumas ideias feitas sobre as reais expectativas que se pode ter na formação dos grandes clubes.
"Não é porque tenho um miúdo de 18 anos que tenho de afastar outro de 27"
Se os sub-19 serão a base do novo FC Porto
"Acho irrealista. Conheço pouco os jogadores, são mais os meus colaboradores, mas sei que há elementos de muita qualidade e nos quais a minha equipa vê futuro. Mas esperar que agora o FC Porto vá jogar com os miúdos que ganharam a Youth League... Até porque não é bom para os jogadores. Nenhum jogador que venha da formação e não encontre uma equipa sustentável vai sobreviver. Caem todos juntos; não sobra nenhum. Pensem no que aconteceu com algumas equipas, talvez desde 1989 ou 1991, que de repente acharam que isso ia acontecer. Lembro-me que, talvez em 1990, vários jogadores daquela seleção que ganhou o Mundial de sub-20 foram para o Feirense. Era uma aposta numa equipa só de portugueses. E o que aconteceu foi muito mau. A maior parte daqueles jogadores acabou por desaparecer."
As vagas reais e as imaginárias
"Quando era só adepto, passavam-me algumas coisas ao lado. Fez-me sempre confusão porque é que o Rui Rodrigues não jogava. Era fabuloso, uma técnica brutal. Mas nunca parei para pensar que quem jogava no lugar do Rui Rodrigues era um rapazinho chamado Humberto Coelho. O Rui não jogava porque não podia. Fala-se muito no Bernardo, que não jogou no Benfica. Mas, se calhar, naquela altura, havia o Fábio Coentrão, que estava a fazer uma época brutal. E o Di María. Naquele momento, com 18 anos, se calhar ainda não estava em condições de competir com eles. Hoje, seriam talvez os outros a ter de sair. Não é tão linear como às vezes se faz crer."
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As vagas imaginárias e os títulos concretos
"Imaginem que o Sporting tem um grande defesa-central jovem, canhoto e que joga no lugar do Mathieu. O que vai acontecer? Ou não joga, ou sai o Mathieu. E o Mathieu até tem alguma idade, mas imaginem que é um jogador com 27 ou 28 anos. Num campeonato em que jogas pelo título, em que disputas uma Liga dos Campeões, quem vais pôr a jogar? O miúdo, coitado, terá de ir rodar."
Bilhete de identidade vs qualidade
"Há quatro anos que ando a ouvir falar em renovar, renovar, renovar. Parece que o bilhete de identidade conta mais do que a qualidade. Agora temos estes miúdos todos com qualidade; então os outros todos vão embora. Despachamos o Bernardo, o Bruno, o Cristiano. Não é assim que funciona. É uma evolução natural. Eles vão-se empurrando uns aos outros. Não é porque tenho um miúdo de 18 anos que tenho de afastar outro de 27."
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