Derrota dura para Infantino com travão à entrega de competições a um fundo
Organismo que tutela o futebol europeu está contra a entrega do Mundial de Clubes e a Liga das Nações a um fundo de investimento.
Corpo do artigo
Gianni Infantino teve ontem uma derrota dura na reunião do Conselho da FIFA que se realizou em Kigali, no Ruanda, ao retirar de votação uma proposta que entregava o Mundial de Clubes e uma Liga das Nações mundial a um fundo que pagaria 21,9 mil milhões de euros durante doze anos. Uma derrota importante a menos de um ano das eleições na FIFA em junho, no congresso de Paris, a que Infantino já anunciou que concorrerá. A oposição da UEFA foi total, houve várias movimentações na noite anterior e o presidente da FIFA foi obrigado a retirar a proposta que tinha introduzido surpreendentemente na Ordem de Trabalhos. A posição do presidente da UEFA, o esloveno Aleksander Ceferin, que tem estado próximo dos principais clubes europeus, significava que Real, Man. City, Man. United não entrariam na prova, o que tornaria os 21,9 mil milhões de euros em nada. Houve momentos de tensão porque a UEFA chegou a ameaçar sair da reunião. E Infantino, recorde-se, foi o anterior presidente do organismo que tutela o futebol europeu.
O que se conhece do plano é que um fundo, de que Infantino nunca revelou a origem do capital, daria 11,3 mil milhões para o Mundial de Clubes e 10,6 mil milhões para a Liga das Nações: na primeira pagar-se-ia cem milhões por jogo a cada clube e o campeão teria de fazer quatro jogos (na Champions o vencedor pode ganhar 170 milhões). Uma enormidade. Um pormenor importante: o fundo paga e fica a mandar em tudo, o que nunca aconteceu na história do futebol.
No quadro da FIFA percebe-se que todas as outras confederações tenham interesse numa prova destas, mas o peso da UEFA é muito grande. Fernando Gomes, presidente da FPF, que faz parte do Conselho da FIFA, esteve obviamente a favor das teses do organismo europeu, apesar de ter sido um grande apoiante de Infantino aquando da sua eleição.
Na conferência de Imprensa após a reunião, Infantino reconheceu que tinha havido contestação e que havia um défice de debate que, espera, seja ultrapassado na "task force" criada e que ele próprio presidirá. Também desvalorizou o facto de não se conhecer a origem do dinheiro do fundo, por "questões de confidencialidade" a que está obrigado. Mas é o banco japonês Softbank que está a financiar e o capital será americano e saudita - e ligações à Arábia Saudita, nesta altura, também não são grande cartão de visita.
Limite a empréstimo de jogadores
O Conselho aprovou a proposta do Comité de Stakeholders - a que pertence Fernando Gomes, presidente da FPF - para limitar muito os empréstimos de jogadores entre clubes e para proibir os empréstimos encapotados, aqueles em que o clube vende o passe, mas fica com direito de regresso, comum em Portugal e Espanha por exemplo. O "potente documento", como o definiu Infantino, inclui também propostas para uma "clearing House" de transferências internacionais, onde tudo o que tem a ver com essas, incluindo possivelmente comissões de agentes, tivesse que ficar registado.
Responsável da FIFA também tem propostas para que se passe a registar as comissões a agentes
Quer também um sistema eletrónico de registo a nível nacional e limitar as comissões dos agentes, bem como restrições à sua atividade. Um pacote importante que será agora convertido em propostas de regulamentação em conselhos posteriores. Infantino anunciou ainda novos programas de desenvolvimento de escolas e mais dinheiro para as federações e confederações. Mas agora com restrições a quem não prossiga políticas de integração, por exemplo, com ligas femininas. "Não podemos obrigar ninguém a ser mais inclusivo, mas podemos restringir a contribuição que damos a esses países", disse Infantino.