Cancelo elogia Fernando Santos e lembra Mundial: "Não consegui dar o meu melhor"
ENTREVISTA, PARTE II - Cancelo admite que a participação no Campeonato do Mundo foi dececionante tanto a nível pessoal como coletivo. O jogador do Bayern pede desculpa aos colegas e aos portugueses. Admite que Dalot mereceu ganhar-lhe o lugar na equipa e julga que a Seleção, pela qualidade que tem, poderia ter chegado mais longe.
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Jogou-se no final de 2022 o Campeonato do Mundo. Que balanço faz da participação de Portugal e o resultado obtido?
- Diria que foi um pouco dececionante. Para a qualidade que Portugal tem, poderíamos ter feito um bocadinho mais. É claro que não somos a seleção favorita a ganhar um Mundial, mas somos uma das seleções que podem causar problemas a todas as favoritas, a um Brasil, a uma Argentina, etc. Podemos competir contra qualquer equipa. A nível de talento individual, possuímos uma das melhores equipas do mundo. Por isso, diria que poderíamos ter chegado mais longe.
E a nível pessoal que balanço faz da sua participação?
- Nada bom, mesmo.
E o que motivou isso. Não chegou ao Mundial em forma, foi isso?
- Acho que foi culpa minha, ponto. Nos três primeiros jogos que joguei não estive bem. No último, acho que já estive um pouco melhor mas, ainda assim, sabendo o que valho e o jogador que sou, não foi de todo o meu melhor desempenho. Assumo isso. E depois o Diogo [Dalot] entrou na equipa, esteve muito bem nos jogos que fez, a um nível alto e mereceu jogar. Nem sempre posso estar bem e assumo que foi o caso neste Mundial. Peço desculpa aos meus colegas e aos portugueses porque não consegui dar o meu melhor.
Acha que, de algum modo, o que se passou com Cristiano Ronaldo - nomeadamente a polémica entrevista que deu a poucos dias do Mundial e, depois, a forma como contestou Fernando Santos pela substituição no jogo com a Coreia do Sul - afetou o grupo?
- Não creio que tenha sido por isso. Penso que o grupo conseguiu manter-se sempre muito alegre e unido, apesar de a imprensa ter caído muito em cima do Cristiano. Os treinos foram sempre top. Infelizmente, quanto aos momentos de forma, não conseguimos escolher o quando e onde sempre. O meu, infelizmente, não foi o melhor e alguns dos meus colegas também não estiveram ao melhor nível. Faz parte do futebol, somos humanos e erramos. Foi o que se passou. Mas, sinceramente, acho que a situação do Cristiano Ronaldo não teve impacto, notei-o sempre super tranquilo em relação a isso, até porque este grupo é muito bom. Não vai ser por isto que se passou que o grupo vai desabar.
"Fernando Santos foi correto com todos"
O ex-selecionador merece uma palavra de apreço do jogador por tudo o que deu à Seleção
Na hora do adeus de Fernando Santos que mensagem gostaria de lhe deixar?
- É preciso dizer que o míster Fernando Santos foi o mais titulado com a Seleção Nacional, temos de respeitar isso. Ajudou-me a cumprir o meu sonho de criança que era representar a Seleção, o meu país. Estou-lhe muito agradecido. Ainda hoje trocamos mensagens porque é, de facto, um homem com um coração enorme e, às vezes, as pessoas esquecem esse lado humano. Esquecem-se que as pessoas também têm família. As críticas nem sempre deviam ser feitas como surgem escritas, o míster foi sempre correto com todos nós. Por exemplo, meteu-me no banco e tinha razão para isso porque eu não estava a render. Quando estamos lá pensamos de uma maneira e mais tarde de outra. Falei com a minha mulher, a pessoa que me diz todas as coisas na cara, e de facto não estive bem e concordei. Fui para o banco como qualquer outro jogador. Temos um lote de 26 jogadores de grande qualidade e tem de acontecer isso, até para a competitividade do grupo. O míster Fernando Santos foi sempre muito correto, abriu o coração comigo, é um homem com H grande. Estou-lhe muito agradecido por tudo o que fez por mim.
"Roberto Martínez acredita no talento português"
Roberto Martínez é o novo selecionador nacional e Cancelo já teve oportunidade de falar com o técnico espanhol. "Ele foi [Roberto Martínez] a Manchester visitar-nos a mim, ao Rúben e ao Bernardo. Falei com ele, parece-me uma pessoa humilde e, pela forma como falou connosco, trabalhadora e exigente. Explicou-nos que quer exigir de todos nós o melhor, porque temos, de facto, um grande grupo e ele diz que acredita muito no talento dos jogadores portugueses, porque é uma evidência que há muito disponível. Constato isso em todos os treinos da Seleção. Acho que é uma oportunidade para abrirmos uma nova era."