Abílio Novais, técnico do Oliveira do Douro, conta que, quando não tinha aulas à quarta-feira, o médio ia treinar uma hora e meia antes dos companheiros de equipa. "Só queria chutar à baliza e correr", recorda.
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Sempre que vai treinar ao Bessa, antes da pré-época, Bruno Fernandes faz questão de cumprimentar todos os funcionários, da senhora da limpeza aos administradores. Abílio Novais, que treinou o médio nos juniores do Boavista, antes deste sair para o Novara, de Itália, recorda "um geniozinho de uma família humilde, de Gueifães".
Técnico de Bruno Fernandes nos juniores do Boavista diz que este foi vendido "ao desbarato"
"Mesmo nas peladinhas que fazíamos já estava dentro dele o ADN de vencer", afirma o treinador do Oliveira do Douro, líder da Divisão de Elite da AF Porto. "À quarta-feira, como não tinha aulas à tarde e os nossos treinos eram às 16h00, ele ia para o Bessa às 14h30, e quem lhe dava o treino era o Patronilho, o nosso treinador de guarda-redes. Quando eu chegava lá à hora do treino, ele dizia-me: "Ó míster, ele só quer treinar, chutar à baliza e correr". E eu respondia: "Se tem essa vontade vai dar qualquer coisa"", testemunha. "Ouvia sempre tudo e não rejeitava nada. Num jogo, só tínhamos um central e no balneário, perguntei-lhes "então como é que é?", e o Bruno disse: "Míster, nos iniciados joguei a central." Ri-me, e jogou na primeira parte e safou-se. E também jogou, por exemplo, a ponta de lança. Marcava muitos golos, já chutava como um cavalo", salienta.
"Era um geniozinho de uma família humilde, de Gueifães"
Por ter um apartamento perto da confeitaria de Abílio Novais, em Canidelo (Gaia), Bruno Fernandes aparece "lá muitas vezes" e recorda, com saudade, um episódio marcante". "Com o Gil Vicente no Bessa, eu estava castigado, vi o jogo da bancada, e o rapaz não passava a bola a ninguém, protestava com os colegas todos, driblava toda a gente. Na palestra, ao intervalo dei-lhe um sermão, "és um sacana, és isto e aquilo", e ele a chorar, a chorar... "Anda lá, pá, levanta-me essa cabeça e vai fazer uma grande segunda parte", acrescentei. Fez uma exibição espectacular e ganhámos 2-1", descreve o técnico, acrescentando que "ainda hoje ele se lembra disso e reconhece que o futebol é um jogo coletivo".
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No entanto, com 17 anos "já fazia a diferença", conta o pai de João Novais - que joga no Al Bataeh, dos Emirados Árabes Unidos -, lembrando como o autor dos dois golos contra o Uruguai foi para o Novara. "Estava a contar com ele, os diretores vieram ter comigo e disseram-me que não ia ficar com o Bruno porque o Boavista ia vendê-lo ao desbarato para Itália por 20 ou 30 mil euros. O clube estava aflito", finaliza.
Basta troca de olhares com Ronaldo
Antigo médio, entre outros, de FC Porto, Leixões, Aves e Salgueiros, Abílio diz que "o Bruno tem uma visão de jogo fenomenal, um passe e um cruzamento muito bons". "Já conhece os movimentos que faz o Ronaldo, que é perspicaz nesses lances e basta uma troca de olhares", considera. "É muito inteligente, troca muito com o Bernardo, aparece sempre no espaço certo, tem golo, é completo", elogia o técnico.
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