"Brasil? Com os sucessos de Jesus, Abel e a boa campanha de António Oliveira, é natural..."
Bruno Lopes é mais um português a dar cartas no Brasil: treina os sub-23 do EC Bahia e entrou de pé direito.
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Bruno Lopes, 37 anos, é mais um treinador português a trabalhar no Brasil. Está nos sub-23 do EC Bahia e foi tipo chegar, ver e vencer...por duas vezes consecutivas. O antigo treinador do Portimonense - dirigiu a equipa principal em três jogos, antes da chegada de Paulo Sérgio - reconhece que os resultados de Jorge Jesus, Abel Ferreira e António Oliveira são um bom cartão de visita, mas garante que só isso não é suficiente: é preciso competência, conhecimento e profissionalismo.
Quais as razões que o levaram a ir para o Brasil?
- Foram várias. Em primeiro lugar, o projeto do Esporte Clube Bahia para o escalão de sub-23, aqui denominado como equipa de transição. Analisei a proposta, apercebi-me da visão futurista do clube e achei que se encaixava com o meu perfil e ia de encontro à minha ambição. Depois, a oportunidade de trabalhar num dos clubes mais prestigiados do Brasil, com uma massa adepta apaixonada e das maiores do país. As condições de trabalho e a qualidade das infraestruturas também me cativaram. Por último, mas provavelmente o que mais pesou na minha decisão, foi a vontade demonstrada pelos dirigentes do clube em que eu fizesse parte deste projeto.
Sendo um campeonato de sub-23, que expectativas tem?
- Desde há muitos anos que o EC Bahia tem vindo a lançar bons jogadores provenientes da sua formação, como o Talisca e o Paulinho. Portanto, as expectativas são as de fazer um bom Campeonato de Aspirantes (o nome dado à liga sub-23), e, principalmente, de desenvolvimento dos jovens talentos, de forma a preparar a transição para o futebol sénior, um pouco à imagem daquilo que fiz nos sub-23 do Portimonense. Se olharmos para a constituição do plantel da equipa principal do Bahia, vemos já um conjunto de jogadores provenientes precisamente deste escalão e da formação. E a direção do clube está focada e empenhada em fazer com que esse número aumente e que isso aconteça ainda com mais regularidade.
Ser treinador português no Brasil é agora uma vantagem, face aos exemplos conhecidos?
- Não considero que o facto de ser português por si só seja uma vantagem ou desvantagem. Obviamente, com os recentes sucessos do mister Jorge Jesus no Flamengo, de Abel Ferreira no Palmeiras e a boa campanha de António Oliveira agora no Atlético Paranaense, é natural que haja mais recetividade para os treinadores portugueses. Todos nós sabemos que a escola de treinadores portuguesa é das melhores do mundo, mas isso, por si só, não confere nenhuma vantagem, há que aliar competência, conhecimento e profissionalismo.
Dois jogos e duas vitórias...como foi isso?
- Foi chegar, arregaçar as mangas e deitar mãos à obra. Aliás, mesmo antes de chegar, enquanto estava em Portugal, tive o cuidado de ver os jogos que a equipa realizou para me ir preparando. No fundo, fazer o trabalho de casa para dispor de uma boa base de entendimento do campeonato, da equipa e dos jogadores, para acelerar o processo de adaptação e aquisição. A equipa técnica que vim encontrar também se tem adaptado muito bem às novas ideias. Estes dois triunfos, em suma, são fruto do trabalho de todos.
A adaptação tem sido fácil?
- Muito fácil, graças à forma como fui recebido por todos no clube. Desde a direção até à senhora do refeitório, passando por diretores, equipa técnica e jogadores, todos têm tido o cuidado de perceber se está tudo bem, se me sinto bem e isso ajuda e facilita a adaptação.
O campeonato brasileiro de sub-23 tem semelhanças com a nossa Liga Revelação?
- O Campeonato Brasileiro de Aspirantes foi criado há relativamente pouco tempo, tal como a Liga Revelação. Existe desde 2017, mas não nos podemos esquecer que o último ano foi atípico devido à pandemia, portanto é um projeto ainda recente da CBF. A competição é composta por 16 equipas divididas em dois grupos de oito, que jogam a uma só volta. Depois, os quatro primeiros classificados de cada grupo passam para a segunda fase e formam dois grupos de quatro equipas, jogando entre si a duas voltas. Desses dois grupos são apurados os dois primeiros para a última fase, que é disputada a duas mãos a eliminar, meias-finais e a final. Deixe-me acrescentar que o EC Bahia utiliza também a equipa de transição para disputar o Campeonato Estadual, uma prova onde participam as equipas profissionais do Estado da Bahia, que constitui uma oportunidade para os jovens competirem num contexto mais exigente.
Tem mais planos para a sua carreira, a breve prazo?
- O meu plano é continuar a fazer um bom trabalho na equipa de aspirantes, agregar qualidade aos quadros técnicos do clube e ajudar no desenvolvimento, maturação e evolução destes jovens. Quanto ao futuro, todos sabemos que para os treinadores de futebol o futuro é o dia seguinte, e o dia seguinte será de treino dos sub-23 do Bahia. Portanto, cabe-me ir trabalhando cada vez mais, ir evoluindo, adquirindo experiências e competências para que esteja cada vez melhor preparado.