Numa entrevista ao jornal The Guardian, o presidente da UEFA comentou tópicos como o investimento da Arábia Saudita no futebol e o novo formato da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes, que considera serem incompatíveis
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Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, concedeu este domingo uma extensa entrevista ao jornal The Guardian, na qual abordou vários tópicos da atualidade desportiva.
Um desses tópicos foi a controversa saída do diretor Zvonimir Boban, no meio de críticas à forma como está a tentar promover uma alteração nos estatutos da UEFA para que possa candidatar-se a mais um mandato na presidência do organismo.
Sobre esse assunto, Ceferin garantiu que a saída de Boban não afetou o organismo de forma significativa e que as suas críticas são fruto de um retrato que não corresponde à realidade.
“A sua saída não causou qualquer perturbação significativa, e muito menos ondas de choque, no seio da UEFA ou da comunidade futebolística europeia, ainda que tenha sido inesperada. É um erro grave sugerir que a UEFA está irremediavelmente fragmentada. Esta mudança não significa nada. Foi apresentada como ‘Uau’ e eu tornei-me no Kim Jong-un da Coreia do Norte, mas não é esse o caso e a decisão de concorrer [a mais um mandato] ou não é exclusivamente minha", vincou.
A meio de uma defesa da eficácia do fair play financeiro da UEFA, que considera estar “a funcionar bem”, o dirigente esloveno aproveitou para comentar o investimento aparentemente ilimitado que a Arábia Saudita tem aplicado no seu campeonato.
“É ainda mais difícil limitar as coisas ali porque, digam o que disserem os jogadores, em princípio, eles procuram o contrato mais elevado. Mas não creio que se possa comprar futebol. Vi um inquérito que mostrava que os adeptos seguem mais as competições e as equipas do que os jogadores. Vemos que alguns já estão a regressar", salientou, admitindo que o caso do Newcastle, adquirido por um consórcio saudita em 2021, o surpreendeu.
"Não comprou superestrelas e, no entanto, qualificou-se para a Liga dos Campeões. Eu esperava que eles comprassem muitos jogadores para a nova temporada, mas não compraram e jogaram muito bem. Mas a Liga saudita não vai durar muito tempo. É um desperdício de dinheiro”, reforçou.
De resto, o presidente da UEFA fez uma reflexão sobre os novos formatos da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes, que vão entrar em vigor na próxima temporada e a partir de 2025, respetivamente, e que, para Ceferin, não são compatíveis em termos de calendário.
"Se os clubes o querem [o Mundial de Clubes], não posso nem quero impedi-lo. Pessoalmente, não creio que seja uma competição muito interessante, porque os europeus vão ganhar tudo, mas isso é com a FIFA e com os clubes de todo o mundo”, apontou.
“A Liga dos Campeões será ainda mais competitiva e interessante do que antes. No final, os grupos de adeptos concordaram com esta alteração. O Mundial de Clubes vai ser cansativo. Não consigo imaginar como é que se joga a final da Liga dos Campeões e, alguns dias depois, se viaja para outro continente e se joga um torneio de um mês”, concluiu.