Covid-19, a comparação com a América do Sul e Central: "Portugal deixou-se dormir"
Treinador Guilherme Farinha está na Costa Rica, onde o estado de emergência já foi decretado há uma semana apesar de haver muito menos casos (87). Vê a situação lusa com tristeza, a sofrer pelos seus familiares à distância. A O JOGO, compara as realidades que conhece e acompanha
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O treinador português Guilherme Farinha leva uma vida ligada ao futebol sul-americano e mais recentemente na América Central, na Costa Rica, onde dirige na Academia Wilmer López/Sporting Clube de Portugal/AD Carmelita, e sofre pelos seus familiares à distância no momento grave que Portugal atravessa devido à pandemia do coronavírus. A O JOGO, relata a rapidez com que a maioria dos governos da América do Sul e Central atacaram o problema, ainda em fases iniciais da sua propagação, assistindo com tristeza e desilusão à forma mais demorada com que Portugal, na sua opinião, o está a fazer.
"Já dei publicamente os parabéns ao governo da Costa Rica, ao seu presidente e ao ministério da saúde, pela maneira como lidaram com esta situação. Em relação ao nosso país, infelizmente, creio que se atrasaram um pouco a tomar medidas. Portugal deixou-se dormir. Cá, na Costa Rica, fecharam logo o que tinham a fechar e parou quase tudo. Neste momento estou sozinho na Academia, com apenas os dois guardas à entrada. Temos 600 jogadores e foi tudo para casa, mas mesmo para casa e não para passear ou ir à praia. Temos falado com os pais e estão a cumprir", atirou prontamente, comparando as duas realidades.
A Costa Rica tem 87 casos e apenas uma morte, sendo que após o primeiro até se decretar o estado de emergência passaram apenas dez dias, de 6 a 16 de março. "Faltam três semanas deste estado de emergência e espero, nessa altura, poder voltar à vida normal. Repito, Portugal atrasou-se, aqui demos um passo em frente, mais rápido, objetivo e claro, para o bem do cidadão. Da América do Sul conheço melhor o Paraguai, onde trabalhei, e está controlado com poucos casos e também tomaram logo medidas. Só não falo de Brasil, Bolívia, Nicarágua e Panamá, onde está a ser uma vergonha. Mas o maior problema está a ser na Europa", acrescentou o técnico de 64 anos, em conversa com O JOGO.
"Cá não nos estão a dar uma estimativa de quando será o pico, mas as pessoas estão a tomar medidas e a ter cuidado, a população já sabe o que fazer e os média ajudam a explicar a higienização. E nós acatamos. Creio que não chegaremos a uma situação problemática", prosseguiu.
O regresso a Portugal, durante esta fase, foi-lhe desaconselhado, pelo que aguarda na cidade de Alajuela com ansiedade pela possibilidade de voltar e em segurança: "Espero que tudo corra bem em Portugal, que se recupere e que eu possa voltar rapidamente. Estou a nove mil quilómetros, com as fronteiras fechadas, é difícil com a família lá... Recomendaram-me ficar, mas quero ir ver a família. Tenho esperança que o povo português, com bravura e coragem, que tenha consciência e recupere. Dá-me a sensação, pelo que vi, que nos últimos dias tomaram conta da realidade."