"Vestir a camisola do Benfica não chega, é preciso assumir jogo e não adormecer"
<strong>ENTREVISTA - </strong>João Manuel Pinto esteve na eliminação do Benfica da Taça de Portugal em 2002/03, diante do Gondomar, e alerta para a necessidade de ter cautelas com o Cova da Piedade.
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24 de novembro de 2002. Numa equipa que contava com João Manuel Pinto, o Benfica recebia o Gondomar para a Taça de Portugal e acabou derrotado por 1-0, o que levou à demissão do então treinador Jesualdo Ferreira. As águias caíram ante um rival de um escalão inferior (II Divisão B) e em vésperas do duelo com o Cova da Piedade, agendado para sexta-feira, O JOGO falou com o antigo central, atual treinador, que também já defrontou os encarnados ao leme de equipas mais pequenas, casos do Cinfães e Sertanense.
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O que se pode esperar deste Cova da Piedade-Benfica?
- É um dia de festa e um estímulo para os jogadores que recebem o Benfica em casa. O Cova da Piedade não tem nada a perder e por vezes as coisas não correm bem aos grandes. Num jogo destes, todo o cuidado é pouco para o Benfica. O Cova vai dar dores de cabeça.
Contra um rival teoricamente mais fraco, por ser de um escalão inferior, qual deve ser a postura do Benfica?
- Nestes jogos, um deslize pode ser fatal. O Benfica tem de estar no seu melhor. Embora o Benfica esteja a ganhar, não tem praticado bom futebol, como na época passada, mas o importante é ganhar. No ano passado ganhava-se com futebol-espetáculo e golos e, este ano, não está a correr tão bem. Já se veem algumas críticas pela forma como Bruno Lage gere o plantel e os adeptos já torcem o nariz porque o desempenho na Liga dos Campeões também deixa a equipa insegura.
Esteve no Benfica-Gondomar. Essa eliminação é um exemplo a ter um exemplo a ter em conta para Bruno Lage?
- Nesse jogo houve condicionantes que não esperávamos e quando se começa mal... Lembro-me que eles foram uma vez à nossa baliza e marcaram num grande golo do meio da rua [Cílio Souza faturou de livre direto]. Pensávamos que, mais minuto menos minuto, íamos marcar, mas a bola nunca entrou. Num jogo a eliminar pode acontecer muita coisa, como a bola bater em todo o lado e não entrar.
"Vestir a camisola do Benfica não chega. É preciso assumir o jogo e não adormecer"
Neste caso, a pressão está toda do lado do Benfica?
- Para o Cova da Piedade, a derrota será um resultado normalíssimo, mas hoje em dia estas equipas assumem o jogo, não têm medo. Antigamente, defendia-se e apostava-se no contra-ataque. Hoje, as equipas têm coragem e isso faz com que os grandes tenham mais dificuldades. Vestir a camisola do Benfica não chega. É preciso assumir o jogo e não facilitar em nada. O Benfica não pode adormecer.
Tendo em conta que o desafio seguinte será com o Lyon para a Champions, recomenda-se gestão da equipa?
- Não acredito que possa haver uma revolução no onze do Benfica. Não há competição há muitas semanas e apesar de Bruno Lage não ter medo de mudar, estou convencido de que o jogo da Liga dos Campeões não vai influenciar.
"Não me parece que Bruno Lage esteja muito preocupado com as exibições"
Acha que o Benfica necessita já de realizar uma boa exibição para dissipar fantasmas?
- Todos querem juntar o útil ao agradável. Depois do que aconteceu na época passada, esperava-se que ficasse tudo igual, mas as equipas conhecem cada vez mais os adversários e isso é difícil. Não me parece que Bruno Lage esteja muito preocupado. Não o vejo intranquilo, mas a trabalhar para que as coisas aconteçam como na época passada. Isto vai lá com o tempo e falta muito campeonato.
Em que medida um mau resultado do Benfica pode influenciar o que falta da época?
- Uma eliminação da Taça, que é um dos objetivos do Benfica, traz sempre consequências. Veremos o que pode acontecer, porque o Benfica não está bem na Liga dos Campeões e está a protagonizar um campeonato aquém do fez na época passada com Bruno Lage.
EXIGÊNCIA OBRIGA A GANHAR SEMPRE
Numa equipa que tem revelado alguma insegurança, segundo João Manuel Pinto, os adeptos encarnados não perdoam qualquer mau resultado e o antigo central das águias perspetiva contestação, caso o campeão nacional não ultrapasse o Cova da Piedade. "Num grande há muita exigência. Podem ganhar-se dez títulos seguidos que não se pode deixar de ganhar. Tem de continuar a ganhar-se sempre", avisa.
OS CENTRAIS DO FUTURO NA SELEÇÃO
Antigo central, que além de Benfica também representou o FC Porto, João Manuel Pinto acredita que Ferro e Rúben Dias vão reeditar a atual dupla do Benfica na equipa das Quinas. "O Ferro agarrou a oportunidade e juntamente com o Rúben Dias serão a dupla de futuro na Seleção", perspetiva o agora treinador, diferenciando o camisola 97 de Jardel.
"O Ferro agarrou a oportunidade e juntamente com o Rúben Dias serão a dupla de futuro na Seleção"
"O Ferro não tem complicado, faz a bola circular e sabe quando tem de fazer um passe longo ou curto, enquanto o Jardel é mais agressivo, forte no jogo aéreo e é uma voz de comando. Ninguém esperava que jogasse na Liga dos Campeões, mas foi opção, até pelos motivos explicados por Bruno Lage, relativamente ao jogo aéreo dos russos", sublinha João Manuel Pinto que, depois de ter liderado o Sertanense na época passada, está à espera de contactos para abraçar um novo projeto.