O JOGO foi até às raízes de Pedro Porro e encontrou um miúdo humilde que se tornou futebolista por influência do avô, que o levava aos jogos e... criticava os treinadores
Corpo do artigo
Pedro Antonio Porro Sauceda partilha o segundo nome com o homem a quem deve uma carreira - ainda curta, é verdade - como profissional de futebol: O JOGO quis saber de onde apareceu este ala direito do Sporting, pedido expresso de Rúben Amorim, e descobriu que foi o "abuelo" Antonio o grande responsável por transformar o miúdo talentoso de Don Benito, município na província espanhola de Badajóz, num promissor futebolista, que já esteve na mira de Real Madrid, de Barcelona e por quem, em 2019, o Manchester City de Pep Guardiola pagou 12 milhões de euros, então ao satélite Girona.
Começou a dar nas vistas nas quadras de Don Benito, mas rapidamente rumou aos relvados do Gimnástico, sempre ao lado do avô materno, a quem liga todos os dias e a quem promete dedicar carreira... de sonho
Porro nasceu - já agora, é da geração de 1999 -, como tantos outros, praticamente com uma bola nos pés: primeiro fazia-a rolar nas pedras da rua, junto do seu povo, e depois dentro da quadra, em campos de futsal, pelo AD Don Benito FS. Só que o senhor Antonio "desconfiava" que não era ali o lugar do neto, filho da sua filha, e quase que o levou pela mão até ao Gimnástico, clube da terra, onde entre pelados e "meios relvados", confirmou as expectativas do avô e criou maiores nos seus treinadores, ao ponto de receber inúmeras propostas para sair da Estremadura, algo que, pela ligação à família, sempre rejeitou. Não tardaria a brilhar, até porque Antonio não lhe dava hipóteses de perder um jogo: acabou convocado à seleção da sua província, onde se estreou em 2014, para espanto de outros técnicos e olheiros.
"O meu neto marca três!"
Há dois momento que evidenciam bem a dedicação do senhor avô de Porro ao querido neto, quando, antes de um jogo entre a Estremadura e Cantábria, Antonio se cruzou, perto do campo onde se iria realizar o jogo a contar para o campeonato de Espanha (Badajoz), com Evaristo Carrasco, virando-se para o coordenador das seleções estremanhas, e garantindo: "Hoje o meu neto marca três!". Quer saber uma boa? Marcou. Quer saber a melhor? Não ia ser titular, mas Antonio chamou "à atenção" o treinador, sob pena... de pegar em Pedro e ir embora; o outro - que se repetiu por Espanha fora - aconteceu em Alcobendas, na província de Madrid, quando o herói do miúdo passou a noite dentro de uma carrinha, com o tio de Porro, só para assistir ao seu jogo.
Sporting e Manchester City, clube inglês com o qual Porro tem vínculo válido até 2024, celebraram um contrato de empréstimo de duas temporadas
Ponto crucial: se está admirado pelos golos de Porro, hoje ala direito, não fique, porque o leão que vem do país vizinho começou a extremo - do lado direito.
Foi, então, como quem puxa uma linha solta, que os maiores de Espanha tentaram levar Porro para longe da família: o Real Madrid era dos mais interessados, mas o jovem achou que poderia ser um passo demasiado grande: aceitou sair da Estremadura, mas para entrar direto nas camadas jovens do Rayo Vallecano, de onde apenas saiu para o terceiro escalão do futebol local, cedido ao CF Peralada, e depois em definitivo para o Girona, onde em 2018 cumpre, finalmente, o sonho do avô, ao estrear-se como sénior pela mão de Eusebio Sacristán, que o levou, cheio de esperança, para a pré-temporada dos catalães.
A "fintar" a pandemia
Hoje a viver em Portugal, Pedro Porro não abdica de pelo menos um telefonema por dia para a família e "exige" sempre que possível falar com o avô: em tempos de pandemia, a relação é mais distante, mas ainda há um mês, apurou o nosso jornal, o futebolista deslocou-se a Espanha para estar com o seu "velhote", prometendo-lhe que aos 21 anos se sente melhor que nunca, no Sporting, depois de uma época mais apagada no Valladolid. Tudo o que conquistar será, claro, para o senhor Antonio.