Uma viagem ao passado de Abel: "Mal terminavam os treinos, corria para os livros"
Rosto principal de um Braga líder, Abel Ferreira ganhou como jogador a alcunha de "abelhudo" por querer saber tudo
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Quando António Salvador resolveu entregar de vez o comando da equipa principal do Braga a Abel Ferreira (na ponta final de 2016/17), a margem de erro era realmente mínima, como se confirmaria na época seguinte, marcada pela melhor pontuação de sempre (75) e pela superação de outros recordes. O novo treinador estava realmente preparado e muito do que coloca em prática, além dos conhecimentos adquiridos na licenciatura de Educação Física tirada em Felgueiras e nos cursos de treinadores que frequentou, foi sendo absorvido ainda como jogador, sempre curioso e perguntador. Semelhante faceta valeu-lhe mesmo, ao serviço do V. Guimarães, a alcunha de "abelhudo". "Todos tínhamos nomes; no caso dele, era um trocadilho relacionado com o seu nome e com o facto de andar sempre preocupado em perceber os treinos. Queria saber o porquê de tudo", recorda Palatsi.
Contemporâneo de Abel também no Vitória, Rogério Matias confirma o espírito curioso do treinador do atual líder do campeonato, mas revela que nem sempre foi assim. Na primeira época em que chegou a Guimarães, proveniente do Penafiel (II Liga), era introvertido e "muito virado" para os estudos. "Parecia que dava mais importância à escola do que ao futebol. Mal terminavam os treinos, corria para os livros. Nessa altura, nem por sombras imaginaria que iria tornar-se num dos melhores treinadores do futebol português. Quando muito daria um bom professor de Educação Física. Por vezes, nem conhecia os jogadores que ia defrontar e já estávamos na I Liga. Depois, transformou-se", conta o antigo lateral-esquerdo, que sempre apreciou a postura "aguerrida" do companheiro. "Era muito rápido e combativo, apesar de ser algo cheiinho. Comia muito", junta.
A propensão para questionar tudo nunca se esbateu e Leonel Pontes, adjunto de Paulo Bento no Sporting, teve essa perceção. " Era muito interessado em saber os porquês das coisas. Falávamos muitos sobre os jogos e os exercícios que fazíamos nos treinos. Levantava dúvidas e estava sempre muito atento às mensagens do treinador. Mesmo depois dos treinos, continuava a falar sobre o que havíamos feito. Julgo que depois apontava tudo num bloco, seguramente já na perspetiva de ser treinador", considera o atual treinador do Jumilla (Espanha).
Leonel Pontes gaba-lhe a dinâmica de ataque, "de equipa de grande, com muita posse de bola e intensidade", que implementou no Braga; já Vukcevic garante que Abel é um verdadeiro mestre na arte de motivar os jogadores. "Comecei por trabalhar com ele na equipa B do Braga e disse-me logo que eu tinha qualidade para jogar na equipa principal e num grande campeonato. Conversava comigo quase todos os dias. É muito tranquilo, passa muita confiança aos jogadores e não muda consoante as vitórias e as derrotas. Está ao nível do Paulo Fonseca. São semelhantes e devo-lhes muito", sentencia o internacional montenegrino, agora ao serviço do Levante (Espanha).
Agora biografias e automobilismo
Nos intervalos do futebol, e são raros, Abel Ferreira refugia-se na leitura, no cinema e no automobilismo. Coleciona preferencialmente biografias, não resiste a deitar o olho a documentários na televisão e tem "A Vida é Bela", uma comédia dramática dirigida e protagonizada pelo italiano Roberto Benigni, como filme de eleição. Já o automobilismo é o segundo desporto preferido do treinador do Braga, mas só na qualidade de espectador. Já perdeu a conta das vezes em que assistiu a classificativas do rali de Portugal e também não perde de vista o chamado "circo" da Fórmula 1.