Equipa minhota andou em segundo, deu cartas na Europa e ainda levantou um troféu. Os mais e os menos da época, com notas atribuídas aos jogadores e a Carvalhal, um a um.
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O Braga terminou no último domingo uma das mais longas e desgastantes épocas da sua história a levantar a Taça de Portugal, a terceira no palmarés do clube, um troféu que embelezou a campanha dos minhotos e que a colocou ao nível das melhores.
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Ao longo da maior parte dos nove meses de competição, a equipa de Carlos Carvalhal colecionou elogios de bom futebol, despertou atenção nos palcos internacionais com um rendimento elevado na fase de grupos da Liga Europa, andou em segundo lugar no campeonato em dois momentos diferentes, também esteve em terceiro durante todo o mês de fevereiro, já sem Paulinho, e deu a ideia que podia discutir o título de campeão, mas a partir de março teve uma quebra que determinou o quarto lugar final. Antes disso, garantira o acesso à final da Taça da Liga, perdendo no jogo decisivo para o Sporting. Em jeito de balanço, O JOGO olhou para os atletas que fizeram parte do plantel, analisou os altos e baixos, as revelações e as deceções e também o trabalho do treinador.
"Demonstraram dentro do campo a força que temos. Este título é todo vosso e também do treinador e da restante equipa técnica. Viva o Braga!
Al Musrati e Castro foram figuras maiores e ambos chegaram ao Minho sem custos, se bem que apenas o primeiro esteja em condições de proporcionar um negócio vantajoso. O relançamento da carreira de Iuri Medeiros (emprestado pelo Nuremberga) também foi um ponto alto, tal como o aproveitamento de Piazon no mercado de inverno.
O único jogador do plantel que não teve utilização foi o guarda-redes Hornicek, daí que não tenha sido considerado na análise. Tal como Guilherme Soares (90"), Rodrigo Gomes (76") e Hernâni (43"), lançados por Carvalhal, mas não de forma continuada. Todos eles competiram nos escalões mais baixos e não fizeram parte do grupo principal, se bem que sejam apostas de futuro.
AS NOTAS DA ÉPOCA DO BRAGA
Matheus 7
Consolidou o estatuto de guarda-redes titular do Braga, numa época marcada pela regularidade e consistência exibicional. Garantiu a soma de pontos em vários jogos, com defesas valiosas, e mostrou ainda uma evolução assinalável a jogar longe da baliza.
Tiago Sá 6
Não foi muito utilizado pelo treinador no campeonato e viu-se mais em ação na Taça de Portugal. Elemento que encarna a mística do Braga como poucos, fez muito trabalho invisível e obrigou Matheus a aplicar-se ao máximo para garantir a titularidade.
Tormena 8
Apreciado por Rúben Amorim, que quis incluí-lo na lista de compras do Sporting, o brasileiro nem começou a titular, mas em novembro iniciou um trajeto consistente no onze e terminou como o central mais utilizado. Tem ainda margem de evolução.
David Carmo 7
Depois de ter sido a revelação da época anterior, esperava-se que 2020/21 fosse a da confirmação, mas uma grave lesão em fevereiro impediu essa progressão. Em janeiro esteve com um pé no Liverpool e o Braga chegou a procurar alternativa, mas Salvador rejeitou a oferta.
Raul Silva 7
Teve problemas físicos ao longo da época e nem sempre contou para Carvalhal, se bem que tenha sido determinante em vários jogos, como na segunda-meia final com o FC Porto e na final de Coimbra. Foi de uma grande utilidade, a jogar no meio ou à esquerda.
Rolando 5
O jogador mais velho não conseguiu ter regularidade competitiva e só não saiu em janeiro devido a casos de covid-19 e lesões que afetaram a defesa. Teve um papel importantíssimo no balneário, que não foi percetível pelos adeptos, apenas pelos companheiros e estrutura.
Bruno Viana 3
Titular até janeiro, embora nem sempre com atuações convincentes, o central teve um problema disciplinar com Carlos Carvalhal, com epicentro no intervalo do jogo com o Gil Vicente, e a SAD riscou-o de imediato das opções. Saiu a meio para o Flamengo.
Bruno Rodrigues 6
Apanhou o elevador para o plantel após a saída de Bruno Viana e a perspetiva era a de que evoluísse em treino, mas com a lesão de David Carmo acabou por jogar mais do que o esperado. Com 19 anos, teve erros normais de crescimento. É um valor para o futuro.
Esagio 8
Elemento que pouco ou nada descansou durante a época, sinal de fiabilidade e robustez física, foi um dos jogadores mais importantes na manobra tática da equipa e soube interpretar de forma eficaz o modelo do treinador. E na final de Coimbra esteve soberbo.
Zé Carlos 6
A dada altura da temporada, Carlos Carvalhal disse que o único problema de Zé Carlos era ter Esgaio como concorrente. Não jogou muitas vezes na época de estreia ao mais alto nível, mas também nunca desiludiu quando foi chamado à equipa.
Sequeira 7
Foi um dos destaques da equipa na primeira volta do campeonato e, tal como Esgaio, interpretou na perfeição o modelo camaleónico de Carvalhal, desdobrando-se entre terceiro central e lateral. A chamada à Seleção Nacional aos 30 anos foi selo de qualidade.
Francisco Moura 7
Em época de estreia no escalão principal, o defesa-esquerdo estava a ganhar o rótulo de jogador-revelação até se lesionar com gravidade, poucos dias depois de ter marcado dois golos na Luz. Mostrou que pode fazer várias posições no corredor esquerdo.
Borja 5
Chegou ao Minho no último dia do mercado de janeiro, envolvido no negócio que levou Paulinho para Alvalade, mas não conseguiu fixar-se no onze e nem sempre convenceu. Seja como for, marcou um golo que foi decisivo para o triunfo nos Açores.
Caju 3
Foi reincorporado no plantel em janeiro, depois de terminado o empréstimo aos brasileiros do Goiás, e só foi utilizado uma vez por Carlos Carvalhal, sinal de que não conseguiu mostrar argumentos em contexto de treino. É um dos jogadores que está na porta de saída.
Al Musrati 9
Foi o grande negócio da última época. Contratado a custo zero, o líbio encaixou que nem uma luva no esquema de Carvalhal, que já o conhecia, e despertou interesse em clubes nacionais e estrangeiros. Muito competitivo, mostrou uma soberba capacidade de passe.
Castro 9
Outra grande contratação do Braga sem custos. Líder dentro e fora de campo, foi um capitão sem braçadeira, tanto assim que a equipa ressentiu-se da sua ausência numa fase crucial da temporada. Aos 33 anos, mantém uma capacidade física invejável.
João Novais 6
Foi uma espécie de 12º jogador para Carvalhal, como se pode ver no elevado número de jogos que fez, um elemento que ajudou a manter o equilíbrio da equipa quando era preciso dar descanso aos mais utilizados. A dupla Castro/Al Musrati não o deixou jogar mais.
André Horta 5
Esperava-se mais do médio, que mesmo assim não deixou de ser utilizado com frequência a partir do banco. Ficou sempre a ideia que estava algo pressionado a mostrar serviço quando ganhou a confiança do treinador. Ajudou a subir a competitividade interna.
Fransérgio 7
Andou em boa forma durante grande parte da época e quebrou na reta final, o que gerou críticas em determinada franja de adeptos. Foi de uma grande utilidade, porque atuou no meio-campo e no ataque, e terminou como quarto melhor marcador da equipa.
Piazon 8
Foi um verdadeiro reforço de inverno, que veio para acrescentar e dar outras opções de jogo ao treinador, tudo isto numa posição em que Iuri Medeiros tinha brilhado na primeira parte da época. Marcou golos decisivos, o principal na final de Coimbra.
Iuri Medeiros 8
Relançou a carreira em Braga e mostrou estar um jogador diferente, comprometido com a equipa, o que lhe possibilitou libertar toda a vasta gama de recursos que sempre dispôs. Marcou golos, alguns excelentes. A lesão grave que sofreu impediu-o de continuar a brilhar.
Galeno 8
Pouco dado à disciplina tática, Carvalhal libertou-o para ser um vagabundo em campo e para moer a cabeça aos adversários através de arrancadas em velocidade. Só pecou por não manter a sequência de golos do início do campeonato, mas terminou como rei das assistências: 11.
Ricardo Horta 8
Baixou a produção de golos em relação à época anterior, mas ainda assim, e para todos os efeitos, terminou como o melhor marcador da equipa, com 15 finalizações, sinal que teve um rendimento superior. Ajudou a fazer funcionar o esquema tático do treinador.
Gaitán 5
Pelas expectativas que gerou, o argentino foi a maior deceção da época, porque não conseguiu ter regularidade competitiva devido aos problemas físicos. Mas sempre que jogou, mostrou o perfume de outros tempos. No balneário, tal como Rolando, teve uma atuação importantíssima.
Abel Ruiz 8
Escondido, por vezes desmotivado e sem confiança até janeiro, o espanhol emergiu da sombra após a saída de Paulinho e fez uma boa segunda volta, com golos importantes, sobretudo na Taça de Portugal, prova em que se sagrou máximo goleador.
Paulinho 7
Titular indiscutível até sair, teve um papel crucial nas movimentações atacantes do Braga e formou com Ricardo Horta e Iuri Medeiros um tridente de respeito. Apesar da longa cobiça leonina, manteve sempre o compromisso em relação à equipa, sinal de profissionalismo máximo.
Rui Fonte 5
Passou grande parte da época lesionado e, por isso, sentiu dificuldades para reentrar numa equipa com andamento superior. Teve um papel meritório no espírito saudável vivido no balneário e isso percebeu-se no relacionamento que manteve com os companheiros.
Sporar 5
Chegou em janeiro, envolvido na transferência de Paulinho para o Sporting, e ficou atrás de Abel Ruiz nas escolhas de Carvalhal para o onze, pelo que foi quase sempre utilizado a partir do banco. Marcou três golos, mas não convenceu em pleno.
Schettine 4
Foi a primeira contratação da temporada anterior e talvez tenha sido também o primeiro a causar desilusão. Nunca foi um concorrente sério para Paulinho e em janeiro rumou por empréstimo ao Almería, de Espanha, sem qualquer golo marcado pelo Braga.
Vítor Oliveira 5
Promovido ao plantel principal depois da saída de Schettine em janeiro, o jovem ponta de lança da formação arsenalista evoluiu em contexto de treino com os mais experientes e teve como ponto alto o golo marcado ao Torreense, na Taça de Portugal.
O TREINADOR - Carlos Carvalhal 8
O treinador do Braga montou uma equipa assente numa inovação tática, que foi a de não ter um sistema fixo e que possibilitou variações constantes durante os jogos, de acordo com as necessidades. Desenhou uma estrutura com três centrais na retaguarda, mas que facilmente passou a uma linha de quatro para defender, da mesma forma que a atacar os laterais aumentaram, e de que maneira, o número de unidades em zona de finalização. Sem bola, a pressão sobre os adversários também foi uma imagem de marca dos minhotos, não só pelo trabalho dos avançados, mas também da dupla Castro-Al Musrati. E não falar dos árbitros num país que só fala de árbitros foi uma boa opção de Carlos Carvalhal.