"Tive a segunda oportunidade no FC Porto, não podia deixar mal quem me deu confiança"
Excertos da entrevista de Nuno Valente ao programa "Hora dos Craques", apresentado por Maniche e Miguel Marques Monteiro, no Porto Canal
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Jogar na Premier League: "Senti muito a diferença de intensidade [em Inglaterra]. Saí do FC Porto no final das inscrições, praticamente sem fazer jogos de pré-época, e o Everton contratou-me. Só que na semana seguinte fui para a seleção, creio que fomos jogar à Rússia. Isto numa quarta, no fim de semana seguinte volto a jogar pelo Everton que ia na terceira jornada. Aos 70' estava morto, passavam todos por mim. Era mais intenso. Eles sentiam-se ofendidos [se um jogador caía a pedir falta], sentia isso até nos treinos quando me mandava para o chão. É a cultura deles.
Experiência como treinador: "Gostei da experiência, mas um pouco desiludido pelo que envolve. Nos sub-19 do Sacavenense estava a fazer o estágio, os miúdos têm outra mentalidade agora e foi bom para aprender. Mas quando chegas a uma II Divisão [Trofense] a realidade e a mentalidade do clube... Gostei do trabalho no campo, mas fiquei dececionado com o que anda à volta
Scouting: "Everton convidou-me para fazer scouting. Procurar na formação, via quatro/cinco jogos por semana e fazia os relatórios. Sentia que o meu trabalho, era eu no Sul e o Paredão no Norte, os relatórios chegavam lá e não tinham peso. Na altura, falava-se muito no Moutinho, era um "target" do Everton, mas quando fazíamos as reuniões diziam que era frágil para a Premier League, baixinho e agora vê-se. Tinham sempre o pé atrás, preferiam fazer um grande investimento num jogador que já estivesse em Inglaterra do que um de Portugal ou de Espanha. Sentia que o trabalho que fazia não era recompensado
A tentação: "Hoje em dia a tentação é muita, os valores não têm nada a haver com o nosso tempo. Ao longo da minha carreira fiz alguns investimentos e as coisas até nem correram bem. Os jogadores são vaidosos, outros têm consciência da realidade de onde chegaram. Vir de um bairro para mim foi uma escola de aprendizagem de ser homem de lutar por um objetivo. Se não fosse jogador não sei o que seria hoje. Morava num bairro social, com uma família grande. No Sporting não correu bem e quando tive a segunda oportunidade, no FC Porto, não podia deixar mal quem me deu confiança e fui para o clube certo para que as coisas corressem bem."
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