"Tínhamos um 'defeito': respeitávamos toda a gente, mas não tínhamos medo de ninguém..."
Juary recorda em O JOGO o "hat-trick" que selou a última vitória do FC Porto contra o Barcelona, em 1985, e recorre ao "defeito" da equipa de então para deixar um conselho à atual
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A noite de 6 de novembro de 1985 já vai longe. Chovia a cântaros na Invicta, o relvado do Estádio das Antas estava encharcado e o FC Porto recebia o colosso Barcelona com o objetivo espinhoso de tentar dar a volta a uma desvantagem de dois golos trazida da primeira mão da segunda ronda da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Ex-atacante portista vê neste FC Porto o mesmo "espírito guerreiro" da equipa de 1985 e acredita que poderá "fazer um bom jogo" contra um adversário que já "não é a máquina de antigamente".
O jogo chegou empatado a zero ao intervalo e a ideia de derrotar os catalães parecia bastante remota. No entanto, Artur Jorge decidiu sacar um coelho cartola: Juary entrou aos 58' e entre os 60' e os 89' fez um "hat-trick". O Barça, de Bernd Schuster e Steve Archibald, haveria de seguir em frente (por causa de um golo marcado nas Antas) e chegar à final da prova, perdida nos penáltis para o Steaua de Bucareste de Boloni, Lacatus e Piturca.
"Esse jogo [1985] foi uma loucura. Entrei quando faltava meia-hora e o 'bicho pegou'"
Nos livros de história haveria de ficar a vitória portista, a última contra o emblema espanhol, e o nome de um jogador que na época seguinte voltaria a desempenhar o papel de herói, agora em Viena, na primeira grande conquista internacional do clube. "Esse jogo foi uma loucura", recorda Juary a O JOGO. "Entrei quando faltava meia-hora e o "bicho pegou"", brinca, longe de imaginar que os azuis e brancos não mais venceram o Barça. "Fico contente por saber que faço parte da história desse grande clube", afiança.
"Tínhamos um 'defeito': respeitávamos toda a gente, mas não tínhamos medo de ninguém"
O futebol acompanhou a evolução dos tempos, mas o estatuto do Barcelona manteve-se inalterável. Os catalães chegam à Invicta com o rótulo de favoritos, ainda que isso, como se viu há 38 anos, conte pouco para Juary. "Nós tínhamos um 'defeito': respeitávamos toda a gente, mas não tínhamos medo de ninguém. Era a nossa grande arma. Não nos preocupávamos com o nome do adversário e acho que esse também poderá ser o segredo desta equipa do FC Porto. Joguem sem medo", aconselha o ex-atacante, que encontra algumas semelhanças entre o grupo atual e aquele a que pertenceu entre 1985 e 1988.
"Esta equipa do FC Porto vale mais pelo coletivo, mas tem o mesmo espírito guerreiro que nós e jogadores que honram e amam essa camisola"
"O FC Porto estava a construir a equipa que no ano seguinte ganharia a Taça dos Campeões e tínhamos jogadores que desequilibravam, como o Futre, o Gomes e o André. Não éramos conhecidos na Europa, mas tínhamos bons jogadores. Esta equipa do FC Porto vale mais pelo coletivo, mas tem o mesmo espírito guerreiro que nós e jogadores que honram e amam essa camisola", nota.
FC Porto e Barcelona defrontaram-se oito vezes nas provas europeias e a balança pende para os catalães que venceram cinco e perderam três
Afazeres profissionais impediram-no de ver o clássico com o Benfica, mas os primeiros jogos deixaram-no com uma impressão positiva desta versão do FC Porto. "É uma equipa que não se entrega, que vai até ao fim e que não dá nada como perdido enquanto o juiz não acabar. Tem uma boa mentalidade. Vejo muito dedo do Sérgio Conceição nela", diz Juary, que não considera o Barcelona atual a "máquina de antigamente". "Tem bons elementos, como tem a equipa do FC Porto. Pode ser mais badalado, mas é uma equipa à altura do FC Porto. Por isso, acredito que pode fazer um bom jogo", perspetiva.
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