"Tinha uns dinheirinhos que a minha avó me dava e ao fim do mês pagava as quotas"
O JOGO desafiou os seis candidatos à presidência do Sporting a desfiar memórias que os definem como cidadãos e sportinguistas. Todos aceitaram falar na primeira pessoa. Conheça o lado mais intimista de Dias Ferreira, candidato da lista F.
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Saí do Liceu Camões e fui com dois amigos à Rua do Passadiço com uma proposta de sócio, feita pelo meu barbeiro, Jaime Monteiro, que tinha dois filhos a jogar andebol no Sporting. Quando lhe perguntavam, dizia: "Se eu não fosse do Sporting, gostaria de ser do Sporting." Tinha uns dinheirinhos que a minha avó me dava e ao fim do mês pagava as quotas.
O meu avô tinha alguma simpatia e levou o meu pai ao primeiro jogo. Fixou-se no capitão Jorge Vieira, o primeiro a completar 75 anos de sócio. Faleceu no Hospital da CUF no quarto ao lado do meu pai, que teve um ataque cardíaco, do qual nunca recuperou.
Lembro-me do campo do Lumiar onde fui ao último jogo do campeonato frente ao Guimarães, o Sporting ganhou 4-0 e foi campeão e a festa foi com uns balões no ar. Em 1956, foi inaugurado o velho Estádio José Alvalade. O meu segundo jogo foi a inauguração. A minha mãe preparou fatos verdes para todos. A partir dos 15/16 anos passei a ver todos os jogos. Gostava de ter seguido uma carreira política, mas não estou arrependido.
Na primeira AG a que assisti, puxei da palavra para pedir ao João Rocha que continuasse. Tenho alguma satisfação nesse discurso porque o João Rocha virou-se para o Nunes dos Santos (chefe do conselho fiscal e meu vizinho) e disse: "Conhece? Então fica encarregado de o convidar para vice-presidente". Aconselhei-me sempre com o meu pai até ele morrer. Ainda procuro pensar no que ele me diria. Pensei que me ia dizer que não. "Isso é melhor do que ser convidado para ministro." O João Rocha nunca se esqueceu desta história. A 13 de agosto de 1980 tomei posse como vice-presidente. O desporto viveu um período muito reivindicativo e produtivo, os presidentes punham a rivalidade de lado. Ainda hoje sou muito amigo do Fernando Pedrosa, Pimenta Machado... Tenho muito afeto pelo Fernando Martins. Nunca tive razão de queixa de Pinto da Costa. Fui trocar Peixe e Costinha por Rui Jorge e Bino. Disse que finalmente o tinha conseguido enganar, porque conseguimos o Rui Jorge. Ofereceu-me duas medalhas que guardo. Depois da candidatura em 2011, estou mais ligado à televisão e ao comentário. São mais de 20 anos, fui o primeiro do célebre Jogo Falado.