ENTREVISTA (parte 1) - Petit apresentou-se no arranque dos trabalhos da equipa do Funchal. Já lá estava, no seu lugar, Nuno Manta. O técnico não concorda com a "dispensa" decidida por Carlos Pereira.
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O Marítimo apresentou-se anteontem com dois treinadores. Nuno Manta iniciou os trabalhos, numa altura em que Petit estava na bancada por considerar que está vinculado ao clube até 30 de junho de 2020, algo que não é reconhecido por Carlos Pereira, presidente do clube insular.
Contratado para render Cláudio Braga, Petit esteve seis meses no Marítimo e conseguiu o grande objetivo da época: a permanência na I Liga
Considera-se ainda treinador do Marítimo?
- Sim, porque tenho um contrato que assinei na época passada. Tanto eu como meu adjunto, o Filipe Anunciação, assinámos um contrato para a época passada e para esta. Por isso é que eu e o meu adjunto viajámos ontem [anteontem] para a Madeira, para nos apresentarmos ao serviço.
Sente que foi importante ter-se apresentado no primeiro dia do trabalho, mesmo sabendo que o Marítimo já tinha treinador?
- Há momentos no futebol em que temos de dar a cara. Tinha o direito de me apresentar ao trabalho, mas também serve para outros treinadores, porque não vale tudo no futebol. Tive essa coragem de ir lá e falei com ele sobre o contrato, porque essas pessoas têm de ser desmascaradas.
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Conversou com o presidente Carlos Pereira?
- Estivemos a conversar cerca de cinco minutos. Ele disse que o meu vínculo terminou dia 30 de junho e eu transmiti-lhe que tenho mais um ano de contrato e que estava assinado. Disse-lhe que queria continuar a trabalhar, mas ele respondeu que o contrato tinha terminado e que tínhamos recebido uma mensagem a dizer que já não contava mais comigo.
Consegue explicar esta situação?
- Antes do último jogo da época estávamos a planear a próxima época e, de um momento para o outro, ele toma a decisão de não contar comigo. Faltou a algumas reuniões de planeamento da próxima época. Depois do jogo com o Boavista começou a não comparecer às reuniões. Eu só falava com o Briguel, que era o diretor desportivo, e uma vez com o administrador, o Marco Costa, que era o braço-direito dele.
"Nestes anos que tenho como treinador nunca tinha tido problemas destes com nenhum presidente. Ouço as sugestões que têm para dar, o que é normal, mas penso pela minha cabeça e não pela dos outros"
Consegue provar que tem contrato?
- Sim, consigo. Tanto eu como o meu adjunto temos na nossa posse um contrato para a próxima época. Transmitimos-lhe isso mesmo, mas ele considera que esse contrato não existe. Temos esse contrato na nossa posse. Inclusive, quando fomos apresentados ele disse que era um contrato de um ano e meio e que não havia opção nem da parte do Marítimo nem minha, mas sim um contrato já com os valores determinados para a próxima época. Agora vamos por outras vias para provar que temos contrato para a próxima época.
Segue para tribunal?
- Vamos por essa via. Temos falado com o advogado e ontem [anteontem] apresentámo-nos ao trabalho para resolver as coisas a bem, mas não conseguimos. Agora vamos para o tribunal. Queria ser treinador do Marítimo, estava entusiasmado com o projeto, estava a gostar da Madeira e os adeptos gostavam do meu trabalho. Neste momento, o Marítimo tem treinador e temos de ir para tribunal.
"Apresentámo-nos ao trabalho para resolver as coisas a bem, mas não conseguimos. Agora vamos para tribunal"
Sentiu que teve todas as condições para atingir a meta dos 40 pontos?
- Em janeiro, na reabertura do mercado, falámos em eventuais reforços e conversei com alguns treinadores da I Liga, concretamente com o Sérgio Conceição, com o Bruno Lage e com o Sporting. Falamos sobre alguns jogadores que podiam reforçar o Marítimo, mas em quinze dias percebi que não havia química entre o treinador e o presidente, porque ele não gosta muito de ir buscar jogadores emprestados e opta muito pelo mercado brasileiro, alguns sem o meu conhecimento. Percebi que não tinha autonomia para contratar jogadores, nem para dar opinião.
Petit garante que percebeu cedo que não havia sintonia com Carlos Pereira. Quando percebeu que estava de saída do Marítimo?
- Foi a partir de opções que tomámos de meter alguns jogadores, nomeadamente o Rodrigo Pinho no jogo com o Braga. O presidente ficou chateado por tomarmos essa decisão. Disse-lhe que enquanto eu fosse treinador do Marítimo, era eu que tomava as decisões e não ele. Por causa dessas opções, surgiram alguns problemas entre nós.
"Falámos sobre alguns jogadores que podiam reforçar o Marítimo, mas em quinze dias percebi que não havia química entre treinador e presidente"
Sentia que o presidente se estava a intrometer no seu trabalho?
- Sim. Fui contratado para salvar o Marítimo da descida, mas depois ele disse que ficou magoado por não termos atingido os 40 pontos. Só não conseguimos essa meta porque não ganhámos ao Boavista e em Portimão, mas esses até foram dos nossos melhores jogos. Mas o que o deixou mais magoado foi eu meter esses jogadores que eu entendia que deviam jogar. Não admito intromissão no meu trabalho.
Já tinha vivido uma experiência destas?
- Nestes anos que tenho como treinador nunca tinha tido problemas destes com nenhum presidente. Ouço as sugestões que têm para dar, o que é normal, mas penso pela minha cabeça e não pela dos outros.
Na gala anual do Marítimo, Carlos Pereira disse que estava zangado por não ter atingido os 40 pontos e que a culpa não ia morrer solteira. Percebeu que essa uma mensagem para si?
- Ele disse que estava magoado com a equipa técnica e com os jogadores, mas deu-me o prémio de treinador do Marítimo do ano... Percebi que algo não estava certo e que podia ditar o meu futuro.
Desiludido com Carlos Pereira?
- Sim, muito desiludido.
Especialista em salvar equipas da descida de divisão, Petit entrou a meio da época no Tondela, Moreirense (duas vezes) e Marítimo e em todas as ocasiões alcançou as metas que traçou
"Convites de França e Arábia"
Depois de deixar o Marítimo, Petit revela que já recebeu propostas para voltar a treinar. "Surgiu a possibilidade de ir tanto para França como para a Arábia, mas juntamente com o meu empresário, o Deco, estou a ver o que é melhor para mim", justificou, admitindo que não gosta de ser visto apenas como um treinador que entra a meio da época. "Gostava de começar uma pré-época e tinha ambição de fazer uma grande época este ano, até para tirar também essa imagem de que o Petit é um salvador de equipas. O Vítor Oliveira é o treinador das subidas e eu o treinador das permanências, mas não quero apenas isso, porque acredito muito no meu trabalho. Assim como cheguei ao topo como jogador, estou a fazer esse trajeto como treinador", garantiu.