Suspeita de corrupção sobre Bruno Paixão: detalhes do caso que envolve o Benfica
Na sequência do processo "Saco Azul", o Ministério Público alega ter encontrado indícios de que o ex-árbitro pode sido subornado pelos encarnados.
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A SAD do Benfica está novamente sob fogo intenso das autoridades, nomeadamente da Polícia Judiciária (PJ) e do Ministério Público (MP), agora com uma investigação que decorre do caso "Saco Azul" e onde há a suspeita de corrupção sobre o antigo árbitro Bruno Paixão.
Segundo avançaram ontem a TVI e a CNN Portugal, em causa estão os alegados pagamentos ao longo de vários anos de 1,9 milhões de euros por supostos falsos serviços de consultoria via uma empresa de informática mas que, agora, a investigação desconfia que milhares de euros terão seguido para Bruno Paixão. Em análise estará o período entre 2013 e 2017 e, se for provado sem qualquer dúvida que se está perante um caso de suborno a um árbitro, o Benfica arrisca mesmo, à luz dos regulamentos da Liga Portugal, ser punido com descida de divisão.
O processo "Saco Azul" foi lançado em 2018 e refere-se a suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais através de serviços de consultoria alegadamente fictícios. Neste processo já foram constituídos arguidos o ex-líder encarnado, Luís Filipe Vieira, o antigo diretor financeiro da SAD encarnada Miguel Moreira, o CEO Domingos Soares de Oliveira, a Benfica SAD e a Benfica Estádio. A estes nomes juntou-se ainda o de José Bernardes, envolvido também nesta investigação que, segundo suspeita a Polícia Judiciária, aponta para que os pagamentos, na ordem dos 1,9 M€, tenham sido uma forma de tirar dinheiro do clube que depois seria utilizado em despesas não documentadas e em numerário. Entre elas, entendem os investigadores, algumas destinadas a atos compatíveis com corrupção.
De acordo com a TVI, foi uma perícia financeira à empresa informática "Questão Flexível" e ao seu dono, José Bernardes, que levou os inspetores a outra empresa, a "Best for Business" com sede em Algés onde se encontrou na lista de pagamentos o nome de Bruno Paixão, que ainda estava no ativo.
No entender da investigação ainda em andamento por parte das autoridades policiais, a referida empresa não teria dimensão para receber 1,9 milhões de euros em serviços, os quais, segundo a Polícia Judiciária apurou, também não terão sido prestados, sendo esta apenas uma forma de retirar dinheiro da contabilidade do clube encarnado para despesas não documentadas.
Paixão assume ter recebido por implantar um "sistema"
Bruno Paixão garantiu à TVI e à CNN Portugal que não foi confrontado pelas autoridades sobre o assunto que agora o visa diretamente, falou de "mera coincidência", mas confirmou que colaborou com a "Best for Business", frisando ter sido apenas na implementação de um sistema de controlo de qualidade. "Conheço José Bernardes, e, aqui há uns anos, durante alguns meses tentei implementar um sistema de controlo de qualidade, o ISO 9001, na empresa "Best for Business"", citam os canais televisivos em causa, acrescentando que o ex-árbitro não terá quantificado o que recebeu pelo serviço prestado. O JOGO tentou obter reações de Bruno Paixão, de José Bernardes, mas sem sucesso, enquanto a Liga Portugal e a Federação Portuguesa de Futebol preferem manter-se em silêncio.
O regulamento
Artigo 62.º
Corrupção da equipa de arbitragem
1.O clube que, através da oferta de presentes, empréstimos, promessas de recompensa ou dequalquer outra vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer elemento da equipa de arbitragem ou terceiros, direta ou indiretamente, expressa ou tacitamente, solicitar daquelesagentes uma atuação parcial, de forma a que o jogo decorra em condições anormais, ou comconsequências no seu resultado, ou que seja falseado o relatório do jogo, é punido com a sanção de descida de divisão e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar entre omínimo de 500 UC e o máximo de 2.000 UC.
2. Se o ilícito for cometido na forma de tentativa, o clube será punido com a sanção de subtraçãode pontos a fixar entre o mínimo de cinco e o máximo de oito pontos e, acessoriamente, com asanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 250 UC e o máximo de 1.000 UC.
CASOS
SACO AZUL
Lançado em 2018, o processo Saco Azul investiga crimes de branqueamento e fraude fiscal. As primeiras buscas foram realizadas à SAD encarnada em setembro de 2018, data na qual foram constituídos seis arguidos, num caso com suspeita de "lavandaria". Luís Filipe Vieira, antigo presidente do Benfica, foi constituído arguido, assim como a Benfica SAD, Benfica Estádio e Domingos Soares Oliveira, atual administrador da sociedade encarnada.
EMAILS
A divulgação de emails do Benfica, pelo FC Porto, no Porto Canal, em junho de 2017, levantou suspeitas de alegados crimes de tráfico de influência, corrupção passiva e ativa por parte do emblema encarnado. O Ministério Público constituiu Paulo Gonçalves como arguido no processo, que investiga uma alegada rede de corrupção na arbitragem para beneficiar o Benfica.
VOUCHERS
O processo foi iniciado na sequência de uma queixa apresentada em 2015 por Bruno de Carvalho, então presidente do Sporting, investigando a existência de possível corrupção do Benfica a árbitros. Segundo chegou a revelar a TVI, a Polícia Judiciária tem fortes indícios da prática de corrupção desportiva, na sequência da oferta de vouchers às equipas de arbitragem que terão superado em muito o valor limitado por lei (35 euros), tendo atingido os 600 euros.
OPERAÇÃO LEX
Antigo líder do Benfica, Luís Filipe Vieira é suspeito de ter oferecido ao juiz Rui Rangel uma vaga na futura universidade das águias como compensação pela influência do juiz num processo fiscal do seu filho. A investigação, que se estende por vários magistrados, por alegada prática de crimes de corrupção, branqueamento, abuso de poder e fraude fiscal, tem já 18 arguidos, entre eles Luís Filipe Vieira, Rui Rangel, Fernando Tavares (vice-presidente das águias) ou José Veiga (antigo empresário e dirigente do Benfica).
E-TOUPEIRA
A SAD foi ilibada de julgamento, num caso que investiga a violação de justiça, nomeadamente com acesso a investigações e processos relacionados com o Benfica e até clubes rivais. O julgamento de Paulo Gonçalves, José Augusto Silva e Júlio Loureiro tem decorrido no Campus da Justiça, em Lisboa. O ex-assessor jurídico da SAD é acusado de 50 crimes. No total o Ministério Público fez acusação de 172 crimes.
JOGOS VICIADOS
A Polícia Judiciária e o Ministério Público investigam um alegado aliciamento de jogadores do Marítimo por um elemento próximo do Benfica antes de um confronto entre as duas equipas, na 33.ª jornada do campeonato de 2015/16. À SIC, dois alegados jogadores dos insulares lançaram as suspeitas, de forma anónima. Além disso, também um desafio com o Rio Ave está na mira da investigação, que tem como suspeitos Paulo Gonçalves e César Boaventura.
MALA CIAO
A Polícia Judiciária do Porto suspeita de um esquema por parte do Benfica que visava a compra de jogadores para perderem os seus desafios com as águias e também para ganharem ao FC Porto. No âmbito da investigação, foram realizadas buscas a quatro sociedades anónimas desportivas, como Aves, V. Setúbal, Marítimo e Paços de Ferreira, num caso em que é investigada a possibilidade de a cedência de atletas serviria como troca de favores. No processo existem suspeitas que o Benfica terá prometido pagar dez mil euros a atletas do Aves para vencerem o FC Porto antes de um clássico na Luz.