José João Torrinha (vitoriano), e Miguel Pedro (braguista) juntaram-se para analisarem o dérbi desta sexta-feira. E nem se pegaram à porrada!
Corpo do artigo
Quando a equipa de reportagem de O JOGO chegou ao Largo da Oliveira, no centro histórico vimaranense, já o advogado José João Torrinha e o jurista e músico dos Mão Morta, Miguel Pedro, se encontravam sentados numa esplanada. Não estavam ao soco, o que, desde logo, foram boas - ou más notícias, depende da perspetiva (uma cena de soco dava sempre uma boa história). O JOGO juntou estes dois adeptos desde sempre do V. Guimarães e do Braga para falar sobre o dérbi de amanhã e sobre a rivalidade que os une, sim, porque é isso que mais os une. De resto, são comentadores semanalmente no nosso jornal, através do qual se conheceram num programa de rádio que fez furor. Ao longo da divertida conversa, bem tentámos a provocação, mas não foi fácil. Respeitam-se imenso e respeitam os respetivos clubes, algo que não se pode dizer da grande maioria dos adeptos.
"O dérbi que melhor recordo foi um em que demos 5-0 ao Braga, era eu pequenino"
O dérbi é em Guimarães e, como tal, tinha de ser esta a cidade para palco do frente a frente (no caso, e por uma questão estética) lado a lado. A rivalidade como tema. Pelo meio da conversa, muitos sorrisos malandrecos, alguns apartes saudavelmente venenosos, mas não, não foi preciso intervenção policial como acontece em tantos encontros entre V. Guimarães e Braga. "Isso é horrível, é o pior que pode acontecer. É algo que abomino e é o que de pior tem a rivalidade, porque rivalidade não é isso", diz Miguel Pedro. "Já fui ver muitos dérbis a Braga, fui aí umas três vezes à Pedreira, mas deu sempre problemas, pedradas, confusão, de modo que decidi não ir lá mais", conta Torrinha.
https://d3t5avr471xfwf.cloudfront.net/2018/10/oj_vitoria_x_braga_20181025183020/hls/video.m3u8
A rivalidade vista por um e outro. Primeiro, José João Torrinha: "Não tem jogo igual. Se saio da órbita? Quer dizer, ultimamente pelas funções que exerço [n.d.r. presidente da Assembleia Municipal de Guimarães] estou um bocado proibido de sair da órbita. Há dois anos, fui ver um jogo a Braga. Estava no camarote presidencial. A força que eu fiz para não festejar um golo do Vitória dava para levantar uma montanha. Mas quando estou na bancada, sai tudo cá para fora. Ódio ao Braga não consigo ter, a rivalidade é uma coisa muito boa, mas admito que haja quem odeie. Isso percebe-se nas conversas de café, quando se ouve coisas do género: "se eu estiver a morrer em Braga e precisar de um copo de água, prefiro morrer à sede"", afirma, para garantir que só fica feliz com as derrotas do Braga quando "dá jeito para a classificação do Vitória". "Disciplinei-me: só olho para o Vitória e acho que nas crónicas que escrevo no jornal nunca falei do Braga".
Sobre ídolos
João José Torrinha e Miguel Pedro são realmente dois fervorosos adeptos que se respeitam, leem os textos um do outro n"O JOGO ao domingo e entendem que têm pontos de vista muito parecidos. Vivem também das memórias dos clubes, elegeram os seus ídolos de sempre dos respetivos clubes. Paulinho Cascavel (V. Guimarães, 1985/87) e Karoglan (Braga, 1993/99).
"Vivo o jogo intensamente. Não é um jogo como os outros. É mesmo muito especial"
Agora, Miguel Pedro: "Tenho uma forma muito parecida com o Torrinha de olhar para a rivalidade. Vivo o jogo intensamente. É um jogo especial, não é igual aos outros. As rivalidades são coisas boas no futebol, rivalidade não tem nada a ver com ódio. Mandamos as nossas bocas, festejamos e é assim que está bem. Durante o jogo, vibro muito. Há uns anos, era vice-presidente do Conselho de Justiça da FPF e fui a Guimarães ver um jogo com o Braga, a convite do Pimenta Machado. O Braga marcou golo mesmo no fim. Fiz um ligeiro festejo, um "gooolo", mas contido. Não foi bom, e foi o Pimenta Machado quem meteu água na fervura. Não devia ter feito aquele ligeiro festejo, mas sabemos que às vezes é impossível não festejar."
Uma história de cortejos e provável destituição
A dado momento, Miguel Pedro contou algo que não é muito comum. Ora, vejamos: "Quando o meu avô era presidente do Braga, aí pelos anos 40, a equipa subiu à I Divisão. Foi organizado um cortejo para assinalar o feito, e o presidente do V. Guimarães dessa altura pediu para que o cortejo passasse em Guimarães, para que as pessoas pudessem integrá-lo também. Ele próprio foi a Braga integrar-se no cortejo". José João Torrinha não resiste: "Provavelmente foi destituído quando voltou a Guimarães". Por que é que aconteceu este gesto é um mistério, até porque ainda hoje, e ambos comungam desta ideia, "qualquer aproximação entre as Direções é muito malvista, é praticamente assinar a capitulação", termina Torrinha.
"Só fico feliz com as derrotas do Braga quando dá jeito ao Vitória"
Convidados a recordar o dérbi de melhor memória, Miguel Pedro salta logo sem dar tempo ao colega comentador. "O que melhor recordo é o do ano passado" (risos, pelos 5-0 em Guimarães). E recordo-me bem de muitos que vencemos. Temos tendência para recordar os melhores momentos e não os piores..." José João Torrinha elege dois dérbis. "O primeiro era ainda muito pequeno, tinha cinco anos, e o resultado foi o mesmo do ano passado: 5-0. Só que vencemos nós. Também tenho bem presente o dérbi para a Taça de Portugal, em que eliminámos o Braga, e acabámos por vencer o troféu. O jogo foi uma emoção incrível. O Douglas fez uma defesa monumental a um remate do Custódio. Se a bola entrasse, não sei o que seria a vida do Custódio, já que vivia em Guimarães..."