Sérgio Conceição e o caso Marega: "Já ouvi muitas pessoas falarem, mas ninguém nos dá lições de moral"
Sérgio Conceição fez a antevisão ao jogo da primeira mão dos 16 avos de final da Liga Europa em casa do Bayer Leverkusen.
Corpo do artigo
Treinador do Bayer Leverkusen disse que a sua equipa teria saído de campo caso acontecesse o mesmo que aconteceu a Marega em Gimarães. O que pensa sobre isso?
Pior do que a entrada deste ou daquele jogador é não haver união na crítica ao racismo; isso é que é importante. Vamos lá ver uma coisa, porque já ouvi muitas pessoas a dar lições de moral, mas ninguém dá lições de moral a ninguém, porque temos um balneário muito forte, muito unido, muito solidário, onde toda a gente rema para o mesmo lado. Como disso no final do jogo [V. Guimarães], não interessa a nacionalidade, a cor da pele, a altura, a cor do cabelo... Para nós é exatamente igual. Somos uma família. Partindo daqui, pergunto quantos treinadores e quantos jogadores sabem os regulamentos e o que fariam numa situação como esta, que é única, porque foi a primeira vez que aconteceu em Portugal. No banco levamos para o banco um caderno, mas é de bolas paradas e não de regulamentos. Naquele momento ficamos todos sem saber o que fazer. O que fizemos e a nossa preocupação era de tentar acalmar o Moussa [Marega] e estar com ele. O clube já fez um comunicado, o presidente já falou sobre isso e não vou alongar-me mais sobre um tema que me enoja.
Que gestos pela positiva e críticas o magoaram na abordagem do caso Marega?
"Triste é não haver consenso e união na crítica ao racismo. Num jogo de futebol, onde as emoções estão à flor da pele, onde um grupo de um momento ou outro não percebe o que está a acontecer, fica na dúvida da razão pela qual o Moussa [Marega] quer sair, no banco tivemos uma perceção, no campo os jogadores tiveram outra... Naquele momento, o sentimento era ajudar, era unir, era estar com o Moussa. Até porque não sabemos nada de regulamentos. Isto é inédito; fui apanhado completamente de surpresa. Nunca me tinha passado pela cabeça que isto pudesse acontecer. A verdade é que aconteceu e, naquele momento, o instinto é de proteger, ajudar, ser solidário e foi isso que aconteceu."
O homem Marega sai forte de tudo isto?
"Não precisamos destes exemplos negativos para estarmos mais fortes e mais unidos. Naturalmente e genuinamente estamos unidos e fortes. Este foi um episódio onde ficou demonstrado, mais uma vez, o carácter deste balneário."