Na primeira grande entrevista como treinador do Portimonense, Paulo Sérgio diz que a vontade é terminar o campeonato e garantir a permanência em campo, mas duvida do timing
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Paulo Sérgio considera que o retomar da atividade foi prematuro, atendendo aos números de infetados e de mortes da semana passada.
Conte lá como organizou os treinos dividindo o plantel por pequenos grupos, com distância...
Tem sido um regresso estranho, com seis atletas no campo de cada vez, repetindo quatro vezes a mesma sessão de treino por dia, o que é extenuante e cansativo. Procurámos inventar novos exercícios, que, dentro das contingências da distância social, consigam contextualizar o modo como queres jogar, como tens de atacar e defender. É preciso puxar pelos neurónios, porque não é só treino físico, tivemos de criar novas situações, de encontro ao nosso modelo, para que o trabalho fizesse sentido. Não é voltar e por os atletas a correr. É uma experiência nova e nada fácil, com a preocupação de cumprir as diretrizes da DGS, da distância, de higienizar as mãos, o que é muito difícil em pleno treino. Isto correndo bem... depende de termos um pouco de sorte, porque é muito complicado não haver contacto.
Em conversa com O JOGO, o técnico do Portimonense fala do regresso aos treinos, das diretrizes da DGS, da forma física, de um desporto de sofá, das operadoras e dos jogadores-cobaias
Mais dia menos dia espera reatar a preparação normal, com treinos de conjunto?
É óbvio que espero que não passemos desta situação de treinar separados para começar logo a jogar o campeonato, não faz sentido. Aliás, para mim, não faz nenhum sentido termos voltado aos treinos. A nossa vontade é terminar a liga e lutar pela permanência, jogando o que falta, mas os números da semana passada, com mais de 500 novos infetados e de 20 mortes, são idênticos aos divulgados durante os estados de emergência. Será que os profissionais da I Liga terão alguma particularidade e são imunes ao vírus? Fomos jogados para a frente de batalha, para a linha de tiro, sem colete à prova de bala, tipo cobaias, em nome da retoma económica, mas a vida e saúde dos profissionais estão a ser jogadas à sorte. Há condições para testar, mas a nossa atividade não é só treinar, é ir às compras agora mais vezes, meter mais gasóleo nos automóveis, numa altura em que, insisto, o vírus não se alterou.
"Fomos jogados para a frente de batalha, para a linha de tiro, sem colete à prova de bala, tipo cobaias, em nome da retoma económica, mas a vida e saúde dos profissionais estão a ser jogadas à sorte"
Considera então prematuro o regresso aos treinos?
Acho que foi prematuro e quase irresponsável e temo que algo venha a correr mal. De acordo em acabar o campeonato, repito, mas assim? E também discordo do modo como foram tratados a II Liga e o Campeonato de Portugal. Atirou-se barro à parede e não há coerência, como agora, quando se ouve falar em jogar em campo neutro, quando já fizemos uma série de quilómetros pelo país e das dez jornadas que faltam são seis em casa. Vamos ter de viajar, sem poder jogar em casa? Há muita coisa que me parece descabida.
Como acompanhou o plantel durante a paragem?
Tentámos minimizar as perdas. Tivemos de nos adaptar, mas ser treinador de covid não é o meu género. Todos eram especialistas. O trabalho foi liderado pelo preparador físico Marcelo, para que as coisas surtissem algum efeito, em sede de capacidade aeróbica e tonificação muscular, sem grande aumento de massa gorda, mas, com tanto tempo em casa, as perdas foram acentuadas. Num defeso normal, jogas ténis, futevolei, caminhas, vais à praia, mas agora foi desporto de sofá. Estamos a trabalhar para recuperar, mas há coisas que a fisiologia não permite. Se as operadoras querem os jogos, querem-nos certamente com qualidade, não entre dois grupos de rapazes que se juntam para um jogo do campeonato.