ENTREVISTA A JOSÉ MOTA (PARTE 2) - O atual momento do futebol português foi outro dos temas abordados pelo treinador. Sobre a arbitragem, lamenta não poder dizer que melhorou, criticando, até, a introdução do videoárbitro
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Os grandes de Portugal são agora pequenos na Europa, segundo José Mota, face aos orçamentos fabulosos da concorrência, uma final da Champions será quase um milagre. Já em Portugal, aponta o FC Porto como a equipa mais forte.
Qual a sua opinião sobre o momento atual do futebol português? Está a evoluir, estagnado ou a regredir?
-Em termos europeus, Portugal terá sempre muitas dificuldades para voltar a atingir, por exemplo, as meias-finais ou uma final da Liga dos Campeões. E isso porque existe uma diferença abissal entre os orçamentos das equipas portuguesas e as equipas de top da Europa. Em 2004, quando o FC Porto venceu a Liga dos Campeões, frente ao Mónaco, depois de no ano anterior ter vencido a Liga Europa, ainda era possível a uma grande equipa portuguesa chegar à final e vencê-la, mas isso agora é quase impossível. Basta ver os orçamentos de um Barcelona, Real Madrid, PSG ou Juventus. O FC Porto ainda está na prova e é uma equipa muito competitiva, que, mesmo sem as individualidades de 2004, possui uma mística própria e uma ambição que lhe permite, aqui e ali, ombrear com os grandes europeus. Oxalá os outros clubes portugueses pudessem fazer o que o FC Porto tem feito nos últimos anos, porque era bom para o futebol português.
"O FC Porto possui uma mística própria e uma ambição que lhe permite, aqui e ali, ombrear com os grandes europeus"
E a nível interno?
-O FC Porto é o favorito à conquista do campeonato, porque é a equipa mais forte. Primeiro, porque tem uma estrutura forte, com jogadores que conhecem bem o futebol português; depois, porque o treinador também está naturalmente identificado com a nossa realidade e tem aquilo que é muito importante: a mística do FC Porto. Quando se estava a perder um pouco do que era essa mística, o Sérgio Conceição conseguiu recuperá-la. E isso é trabalho e mérito dele. O FC Porto, sente-se, é uma equipa com orgulho e uma atitude competitiva positiva... Depois temos o Benfica, que fez um esforço enorme para recuperar o título, assim como o Sporting, mas o FC Porto continua a ser o favorito. Noutro contexto, o Braga tem sido o clube que mais se tem aproximado dos grandes, é o que mais tem crescido e basta ver as infraestruturas e as condições que dá aos seus profissionais...
E da arbitragem, o que diz?
-Eu gostava de dizer que melhorou, mas a verdade é que quanto mais condições e mais bem preparados parecem estar e mais tecnologia de apoio têm os árbitros, mais discussão existe. Acho que em muitos aspetos o VAR não está, neste momento, a ajudar o trabalho dos árbitros, está a complicá-lo. E depois existe uma desconfiança: se existe VAR não se pode errar.
"NÃO ANDO AQUI COM ESQUEMAS"
Sem papas na língua quando tem de falar, José Mota lamenta a diferença de tratamento entre os grandes e os restantes. Com as críticas pode bem...
Foi muito criticado pelas declarações após a final da Taça de Portugal e pelo que disse sobre o VAR no jogo com o Sporting. Sente-se incompreendido?
-O que disse foi em defesa do Aves, nada contra o Sporting. Muitas vezes a Imprensa não entende o alcance das nossas palavras e acho que há uma desigualdade de tratamento entre os grandes e os outros clubes. Nada tenho contra Sporting, FC Porto ou Benfica, tenho é de defender o meu clube. Sei que me prejudico, que me criticam, que muitas vezes não gostam de ouvir o que digo. Quem lida comigo no dia a dia sabe que não sou aquela pessoa cuja imagem negativa muitas vezes querem transmitir; não ando aqui com esquemas.
"Tinha lá um miúdo no plantel que quando lhe perguntei qual o jogador português que mais admirava me respondeu: o Carlos Martins"
PORTUGAL SEM SEGREDOS NA TUNÍSIA
A experiência na Tunísia permitiu a José Mota perceber como é visto Portugal no estrangeiro. "Na Tunísia devoram o futebol português, sabem tudo. Tinha lá um miúdo no plantel que quando lhe perguntei qual o jogador português que mais admirava me respondeu: o Carlos Martins, do Belenenses. Eu à espera que ele me falasse do Cristiano Ronaldo... Fiquei estupefacto", conta. Em relação a treinadores portugueses, "o Leonardo Jardim era um deus para eles".