André Geraldes, antigo diretor desportivo do Sporting, considera que o sucessor de Amorim tem uma herança pesada
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Em entrevista a O JOGO, André Geraldes, antigo diretor desportivo do Sporting, fala sobre as mudanças no comando técnico dos leões. Conhece bem João Pereira e não tem dúvidas em afirmar que este tem condições para singrar.
Ex-responsável sublinha que ficam por esclarecer alguns detalhes no processo de transferência de Rúben Amorim para o Manchester United. “A razão pela qual o valor da cláusula de rescisão é este...”, atirou.
Agora que é oficial a saída de Rúben Amorim, acha que faz sentido esperar para revelar que João Pereira será o sucessor?
-Dado que a saída de Rúben Amorim só será oficializada no dia 10, o Sporting faz bem em anunciar o novo treinador apenas no dia 11. No entanto, ficam ainda por esclarecer os detalhes contratuais da saída, nomeadamente a razão pela qual o valor da cláusula de rescisão é este, especialmente num momento fora da janela de transferências de verão. No mínimo, a cláusula deveria aplicar-se apenas ao mercado de verão e não a qualquer outro período da época, algo que não foi salvaguardado.
Parece-lhe uma boa medida o Sporting segurar Rúben Amorim até à paragem de seleções? Que prós e contras pode isso trazer?
-Tenho sérias dúvidas sobre a permanência de Rúben Amorim até à pausa para as seleções. Os jogadores aparentam estar algo apreensivos e nervosos com esta alteração inesperada. Embora o clube deseje uma transição calma e tranquila, especialmente para alguém [João Pereira] que já conhece a realidade interna, nunca será o mesmo ter definitivamente um novo treinador, com ideias definidas, do que ficar nesse limbo de indefinição e aumentar os índices de nervosismo. Acima de tudo poderá afetar a assimilação rápida das ideias do novo treinador. Deve respeitar-se profissionalmente a decisão de Rúben Amorim. Oportunidades destas não aparecem todos os dias, como tal tinha que dar-se ao treinador campeão pelo Sporting todas as condições para que abraçasse o sonho.
De que forma a saída de um treinador tão marcante como Rúben Amorim pode abanar com a estrutura e a equipa do Sporting ao longo dos próximos meses?
-O projeto do Sporting estava centrado, essencialmente, em Rúben Amorim. Assim, a saída de um treinador com tamanha autonomia representa um desafio complexo para a gestão do clube. Embora tenha sido uma escolha da Direção, é evidente que, ao chegar a este ponto, tal decisão viria com um custo. Amorim é querido não só internamente, mas também entre os adeptos e jogadores. Esse impacto, naturalmente, já está a gerar instabilidade. Falamos de alguém que é um treinador com a “chave de casa” do clube.
Do que conhece do João Pereira, vê-o preparado para este enorme desafio?
-João Pereira foi um jogador acima da média, com um ADN de treinador, de entrega e agressividade que todos os treinadores valorizam e que, presumo, ele procurará integrar no seu estilo enquanto técnico. Tive a oportunidade de trabalhar com ele e sei que essas características despertavam grande admiração. Resta agora perceber se, como técnico, ele conseguirá combinar essa intensidade com uma capacidade sólida de gestão, não apenas a nível técnico-tático e disciplinar, mas também na vertente emocional, que é essencial para o sucesso na liderança e ainda para mais neste estilo de liderança que é uma herança pesada.
Qual a maior dificuldade que um treinador pode encontrar ao herdar tão pesada herança?
-Não é uma questão simples. A herança que Rúben Amorim deixa, como já tive a oportunidade de referir, é praticamente impossível de igualar. O desafio é extremamente complexo e vejo-o como um processo que exigirá tempo, mais a médio prazo do que a curto. É natural que, nesta fase, os jogadores e a equipa ainda mantenham muito do sistema de jogo de Amorim, mas, com o tempo, também é normal que as ideias do novo treinador comecem a consolidar-se. Este é o desafio que o Sporting enfrentará com a saída de Amorim, num modelo em que tudo estava alicerçado na figura do treinador.