ENTREVISTA - Fechada a porta do Dragão, o central viu uma janela abrir-se no Catar e sente que a opção de jogar no país do Mundial foi certa.
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Trocou a instabilidade no Olympiacos no começo do ano pela ilusão de dar um novo impulso à carreira no FC Porto, mas é no país onde hoje arranca o Campeonato do Mundo, no Al Duhail, que Rúben Semedo prossegue o percurso no futebol.
Uma decisão difícil de tomar, pela pouca visibilidade do liga do Catar em Portugal, mas da qual não se arrepende, depois de a porta do Dragão se ter fechado no verão. Uma decisão que o surpreendeu e que aborda nesta entrevista a O JOGO, na qual fala ainda o período atribulado na Grécia, as lições de Pepe, o sonho permanente de representar a Seleção Nacional e o que esta pode alcançar no Mundial.
Como tem corrido a primeira experiência fora da Europa?
-Até agora, tem sido agradável. Nos primeiros tempos foi um bocadinho mais difícil, mas vim logo com o Kiko [Correia], que é a minha pessoa de confiança, o meu braço direito. Entretanto, depois do primeiro e do segundo mês começou a ser mais fácil. Comecei a entender mais sobre a cultura, o país, os costumes de cada um e consegui adaptar-me perfeitamente.
O que o fez escolher o Catar para continuar a carreira?
-Das propostas que tinha, foi aquela que mais me chamou a atenção, pelo ambição que o clube também tem em conquistar títulos. É a minha primeira aventura fora da Europa e o projeto cativou-me bastante. Por vezes, tens um projeto muito aliciante, mas o comandante do barco não partilha dessa ambição, não é tão ligado ao clube. O que encontrei aqui foi um presidente que gosta muito do clube, gosta muito de ganhar e isso pesou muito na decisão de vir.
Em Portugal não se segue com muita atenção os campeonatos dessa zona do globo. Tinha noção que esta decisão lhe retiraria alguma visibilidade?
-Sim, claramente. Sempre fui consciente disso e, por isso, demorei algum tempo a tomar a decisão. Todos temos o objetivo de representar a Seleção ou jogar a Liga dos Campeões, que são grandes palcos na Europa, e obviamente que sabia que vindo para o Catar teria menos visibilidade. Mas, conversando com a minha família, foi a decisão mais acertada, porque neste momento a minha família está tranquila, está feliz e isso é o mais importante.
Chegou a ter convites para ficar na Europa?
-Sim, tive algumas propostas. Mas entretanto foi como disse: esta proposta era muito aliciante e, depois de conversar com o presidente daqui, fiquei decidido, apesar de não o ter dito logo. Sendo sincero, foi uma decisão difícil, da qual não me arrependo.
Quando terminou a última época no FC Porto, escreveu nas redes sociais "Vamos por mais". O que sentiu quando soube que o clube não exerceria a opção de compra?
-Antes de tudo, foi uma surpresa. Não o posso negar, porque o feedback que tinha das pessoas do clube e mesmo o meu era de que iria ser exercido o poder de compra. Mas é como disse: o meu trabalho é jogar, não é discutir essas coisas, não é saber o que se passa, nem negociar. Para mim é jogar e essas partes deixo para as pessoas mais competentes. Infelizmente, não foi isso que aconteceu, não fiquei, mas, como se costuma dizer, fecha-se uma porta, abre-se uma janela. É bola para a frente.
Deram-lhe alguma explicação?
-Não, não me deram nenhuma explicação e também não me cabe pedir essas explicações. Simplesmente foi um ciclo que se encerrou e foi muito bom enquanto estive. Como disse várias vezes, senti-me parte da família, sentia-me bem com a cidade e estava muito bem. Estava muito feliz, mentalmente sentia-me capaz, mas é como digo: foi um ciclo que fechou e bola para a frente.
Muitos acreditavam que com a saída de Mbemba poderia surgir esta época ao lado de Pepe. Passado algum tempo, consegue perceber o que terá corrido mal?
-Pessoalmente, acho que fiz tudo o que podia para ser opção. Mas o FC Porto tem grandes centrais, tanto o Fábio Cardoso, de quem sou amigo, como o Marcano e o David Carmo, que foi contratado há pouco tempo. O FC Porto tem sempre boas opções, pelo que são sempre decisões. Ela foi de não ficar no clube, que na altura era o que claramente queria, porque estava feliz e sentia-me parte da família. Estando feliz, as coisas correm muito melhor em campo. Não foi isso que aconteceu, não devo pensar mais nisso. Faz parte do passado. Foi um capítulo da minha vida que se encerrou e, portanto, não me cabe a mim pedir explicações. Se alguém, um dia, as quiser dar, estarei cá para ouvir. Se não, também não influenciaria muito o meu dia a dia.
Foi contactado no começo de 2021/22. Sente que se tivesse chegado nessa altura as coisas teriam sido diferentes?
-É muito vago falarmos assim. Não sei. No início senti dificuldades, porque há algum tempo que já não treinava, já não competia, mas o clube teve um plano comigo espetacular e consegui perder peso. Consigo arriscar em dizer que foi a minha melhor forma de sempre em termos físicos, mas depois são coisas que não controlamos. O meu trabalho é treinar e tentar dar o melhor se me é dada a oportunidade; o do treinador é tomar decisões, escolher os que jogam e os que entram. Jogando ou não, tento sempre dar o melhor melhor, ter o melhor registo nos treinos e ter um comportamento impecável. As decisões que foram tomadas para não jogar e ser opção são coisas que não me competem. O que posso dizer é que, se calhar, um mês ou um mês e meio depois, arrisco-me a dizer que estava na minha melhor forma de sempre. As pessoas que trabalharam comigo no clube foram impecáveis de todas as formas.