"Reconheço que o percurso do Fábio Silva no FC Porto poderia ter sido diferente"
De saída do FC Porto, o ex-coordenador e técnico José Tavares concedeu uma entrevista a O JOGO.
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A transferência de atletas jovens é, para José Tavares, uma fatalidade enquanto os clubes não se juntarem para criar uma Liga que atraia maiores fontes de receita.
O FC Porto vendeu Fábio Vieira e Vitinha. Os clubes estão condenados a perder estes talentos para serem sustentáveis?
-Não tem que ver com uma visão eliminatória, mas com o modelo de negócio, e cada um escolhe o seu. O do FC Porto é evidente, é público e é, com muitos anos de experiência, assim que o FC Porto continua a vencer títulos nacionais, a ousar chegar o mais longe possível na Liga dos Campeões e a produzir talento. Não tem que ver com um problema, mas com uma escolha. Quando se quiser inverter, forçosamente serão necessárias novas fontes de rendimento, que, em função do nosso país e do mercado, são mais difíceis de encontrar. Por isso é que temos de trabalhar juntos para que o nível médio suba, surjam mais patrocinadores e exista maior capacidade financeira a movimentar o sistema. Se assim for, todos serão capazes de reter durante mais tempo os melhores talentos e vender num tempo menor.
De todos os que saíram, qual o que mais lhe custou?
-Sou defensor do talento de todos eles, mas, depois, reconheço que o percurso do Fábio Silva no FC Porto poderia ter sido diferente, por vários motivos: pelo talento, pela personalidade, pelas escolhas dele e pelos timings em que tudo aconteceu. Foi aquele em que, se a conjuntura fosse outra, podia ter tido uma história diferente, porque ele também queria que assim fosse.
Saiu demasiado cedo e para uma Liga muito exigente...
-Quando as decisões são tomadas, acredito que são para o bem de toda a gente: do FC Porto e do jogador.
O mercado deu-lhe a chance de trocar Inglaterra pela Bélgica. Este passo atrás pode ajudar a impulsionar a carreira do Fábio?
-Quando a humildade faz parte do ser humano, reconhecemos muitas vezes que temos de mudar algo em nós ou de contexto. Depois será o exterior a qualificar de forma positiva ou negativa. Se estivermos cientes de que o melhor é mudarmos de contexto, seja para qual for, estará sempre tudo bem. Não pode ser qualificado como falhanço ou um passo atrás se o jogador, quem faz parte do seu contexto e o seu clube perceberem que é melhor estar noutro local para que tudo aquilo em que se acredita continue a acontecer. É a humildade de reconhecer que a mudança faz parte da vida. E muitas vezes é preciso mudar para nos voltarmos a encontrar, a crescer, a ter novas oportunidades, motivações e a expressão do talento ser de uma transcendência contínua.