"Vitinha e Fábio Vieira tiveram sucesso fruto do talento e do trabalho do Sérgio Conceição"
ENTREVISTA >> De saída do FC Porto, o ex-coordenador e técnico José Tavares perspetiva a subida de mais atletas da formação à equipa A no futuro próximo
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O facto de Vitinha, Fábio Vieira e Baró terem sido campeões é, para José Tavares, um sinal de que algo foi bem feito.
A geração dos Diogos e a de Fábio Vieira e Vitinha foi um sucesso. Como se moldou o talento deles?
-O talento diferencia-se de várias formas. E quando ele é compreendido, desafiado a desenvolver-se e no próprio timing, quando é suportado no sucesso e as coisas correm bem, há um momento em que tudo bate certo. E nesses momentos podemos ter o título europeu, como aconteceu. Quando temos um Fábio Vieira, um Vitinha, um Romário Baró e um Afonso Sousa que, nos Sub-15, eram todos médios interiores e conseguiram chegar à equipa B, sendo que três deles foram campeões na equipa A, algo deve ter sido feito de forma excecional.
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Acreditamos sempre que é o que eles têm que os fará chegar à equipa A, mas devem ser capazes de ir aprimorando o que não têm. Há um momento em que, se não o fizerem, acabarão por ter uma carreira noutros níveis competitivos. Mas quando o entendem no timing certo, as coisas proporcionam-se desta forma e acabamos por ter o Fábio Vieira e o Vitinha a terem o sucesso que tiveram, fruto do talento e de todas as pessoas que os ajudaram. Depois, com o trabalho do Sérgio Conceição, na hora da verdade produziram resultados e performance, porque talento sempre tiveram.
Treinou o Vasco Sousa e o Bernardo Folha. Como vê o facto de estarem na pré-época da equipa principal?
-Há características específicas que nos vão demonstrando, nos momentos da verdade, que podemos confiar neles e acreditar que vão conseguir. O Bernardo e o Vasco são dois, existem outros, em que, mais uma vez, o trabalho do Sérgio Conceição, do António Folha e das suas equipas técnicas ao longo deste tempo no desenvolvimento, em perceber os timings adequados para os atletas terem mais exposição ou menos, a serem convidados a jogar com mais ou menos frequência, é decisivo na carreira destes jogadores. Os portistas podem ficar tranquilos, porque a competência na equipa A e B para o desenvolvimento do talento é excecional.
"Os timings certos não são os do ego, dos pais e dos agentes..."
É normal os adeptos terem uma ligação com os atletas da formação e exigirem que comecem a jogar. O excesso de expectativas é o maior inimigo dos jovens?
-Quem quer fazer carreira a top tem de ser capaz de lidar com as pressões internas, externas, dos colegas de equipa, dos treinadores, dos clubes, dos agentes, dos sócios, das redes sociais. Se eles se focarem no que são capazes de fazer e desenvolverem o talento nos momentos em que tiverem oportunidades, o caminho deles será percorrido de forma natural. O FC Porto luta para vencer a Liga dos Campeões, o campeonato e todas as outras provas. Os nossos jogadores têm de estar cientes dessa complexidade, porque não é só para jogar um jogo ou ter rendimento durante algum tempo; é para lutarem de forma semanal, durante épocas inteiras.
Como se explica a alguém de fora do processo qual é o timing certo?
-Os sócios e os adeptos têm sempre de confiar em quem toma essas decisões, porque toda a gente quer o melhor para o clube e os jogadores. Muitas vezes, a paciência e a tolerância são importantes para, neste mundo acelerado em que vivemos, percebermos que os timings não são os do ego, da mente de cada um, dos pais e dos agentes, mas da realidade que nos está à vista. Se tivermos a sabedoria de esperar pelo momento certo, as coisas acontecem como se quer.
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